Voltei

“O maior serviço prestado à Doutrina é, ainda, a própria conversão ao Infinito Bem”.1

             No fim da década de quarenta, chega através das abençoadas mãos de Chico Xavier uma obra muito esperada no meio espírita: o livro Voltei, de autoria do Irmão Jacob.

            Era Frederico Figner, espírita convicto, de grandes esforços em prol da doutrina, que volta, conforme o prometido em vida, sob o pseudônimo de Irmão Jacob, para relatar os fatos do seu “passamento” e os primeiros momentos no mundo espiritual.

            Após a morte, Jacob foi recebido especialmente por Bezerra de Menezes, por sua filha Marta, que o antecedera na “viagem” e por bons amigos da espiritualidade. Surpreendentemente, enfrenta dificuldades decorrentes ao processo de desencarnação e de adaptação inicial na dimensão espiritual. Apesar do conhecimento doutrinário e de todo o trabalho de amparo dedicado aos encarnados e desencarnados nas lides espíritas, enfrentou perturbações e dificuldades para romper os “elos morais”, por ele considerados, muito mais fortes e difíceis de desfazer do que os “liames da carne”.

            Ainda fragilizado pela nova situação em que se encontrava, Irmão Jacob recebeu, junto a outros quinze “convalescentes da morte”, os primeiros notáveis esclarecimentos de Bezerra de Menezes sobre os motivos de seu atual estado, lição que compartilha conosco: “(…) todavia, se manifestáramos certo esforço no serviço da crença religiosa, fôramos mais apaixonados pela idéia elevada que propriamente realizadores* dela no mundo.”2

            Destaca ainda, Dr. Bezerra, que no além-túmulo: “(…) só os conquistadores de si mesmos, no supremo bem ao próximo, guardavam posição de realce e domínio.”3

            Mais adiante, Irmão Jacob reflete: “Se o homem soubesse a extensão da vida que o espera além do corpo, certamente outras normas de conduta escolheria na Terra!”4 Justificando assim, a necessidade do homem a renunciar os hábitos antigos, comodidades fúteis, procurando jamais assumir compromissos frente ao seu semelhante através de ações criminosas ou menos nobres, o que provoca o encarceramento temporário do indivíduo nas regiões inferiores. Recomenda-nos livrarmos dos débitos, corrigir os erros enquanto em hora favorável, para evitarmos mergulhar em resgate laborioso e retificação dolorosa e certa.

            Destaca o amigo espiritual: “Reporto-me, com vigor, aos quais adotam uma crença religiosa, usando os lábios e paixões, sem se afeiçoarem no íntimo, às verdades renovadoras que abraçam.(…) se fôssemos menos palavrosos e mais cumpridores* das lições que recebemos e transmitimos, outras condições nos caracterizariam além do sepulcro(…).”5

É imprescindível que todos leiam esta obra, para que, quando se encontrarem “do lado de lá” não se sintam desorientados, injustiçados ou perdidos se enfrentarem dificuldades “inesperadas”.

            No livro A Boa Nova, Irmão X (Humberto de Campos) em uma verdadeira e modesta auto-análise afirma que:“(…) existem Espíritos esclarecidos e Espíritos evangelizados, e eu, peço a Deus que abençoe a minha esperança de pertencer ao número dos últimos”.6

            Estas demonstrações de simplicidade e humildade dada por um dos maiores espíritas e por um dos maiores escritores brasileiros servem como alerta e estímulo aos novos trabalhadores espíritas de hoje, para que corrijam o próprio rumo dos pensamentos, sentimentos e atitudes enquanto ainda na tarefa, para não se angustiarem mais tarde.

            * Grifos nossos

 

1XAVIER, Francisco C.Voltei. Pelo Espírito Irmão Jacob. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. p.120
2 a 5 Idem, p. 68, 73 e 74
6 ______. A Boa Nova. Pelo Espírito Irmão X. 30. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. p. 13