O sentimento da culpa é aquela sensação desagradável que se sente quando se comete uma ação equivocada contra algo ou alguém ou quando, por omissão, deixa-se de fazer algo que deveria ser feito.
Sempre que ela surge, deixa no indivíduo um gosto amargo de dever não cumprido que, dependendo do grau de envolvimento ou responsabilidade, pode levá-lo a um sentimento de inferioridade, à depressão e, em casos mais graves, ao suicídio.
O sentimento de culpa foi um recurso muito utilizado pelas antigas religiões dogmáticas com o intuito de frear as ações consideradas pecaminosas, condenando à pena do inferno eterno todos os que não seguiam a sua cartilha.
Hodiernamente trabalha-se a culpa não mais pelas imposições exteriores, mas no sentido psicológico e nos transtornos internos que ela pode impactar no indivíduo.
Este sentimento aparentemente negativo, na realidade, quando bem trabalhado, serve de excelente ferramenta para a evolução espiritual do ser.
Quando a pessoa toma ciência de que é culpado (responsável) por determinadas atitudes e suas consequências, é sinal de que já existe um despertamento importante da sua consciência para as situações equivocadas de que é agente e que desarmonizam não só o ambiente exterior como o mundo íntimo.
Há indivíduos que, por exemplo, aparentemente não sentem culpa ou remorso por qualquer ato errôneo, mesmo quando praticantes de crimes hediondos ou ações inescrupulosas. Esses seres ainda estão no estágio de primitivismo do desenvolvimento moral e ainda não despertaram para as responsabilidades ou então estão procurando mascarar, de diversas formas, os avisos que a própria consciência lhes faz. Isto pode ocorrer temporariamente, pois o tempo e a vida se encarregarão das lições necessárias.
Todos têm um guia absoluto e seguro onde está escrita a lei de Deus: a própria consciência. Este guia se encontra em germe no cerne de todo o ser humano e deve ser desenvolvido individualmente ao longo das múltiplas reencarnações. Quando em processo de afloramento, proporciona o alargamento do senso moral. Assim, a regra do bem proceder se torna mais nítida, bem como a distinção do bem e do mal. A fórmula para não haver enganos está resumida na recomendação de Jesus: o que quereis que os outros vos façam, faze-o também vós a eles.1
Mas, e a culpa? Como conviver com ela?
A culpa tem um único e exclusivo objetivo: alertar a pessoa que está equivocada. Ela nada mais é do que um sinal de perigo na trajetória da vida avisando que a permanência naquele caminho vai provocar consequências graves. A culpa é uma advertência para a alma assim como a dor é uma advertência para o corpo, é o sinal vermelho mandando parar; serve para corrigir e não destruir. Pode, muitas vezes, junto à culpa vir o remorso e o arrependimento que são situações que confirmam a rota equivocada e abrem as portas para a etapa seguinte.
Com este despertamento volta-se a atenção para outro ponto fundamental: a retomada do caminho correto. O mais importante de todo este processo é a reparação do mal cometido. Como todo erro deve ser corrigido, o quanto antes se tomar esta atitude, mais próximo o indivíduo se encontrará da paz. A reparação é a verdadeira reabilitação moral que se inicia no sentimento de culpa.
É possível viver sem culpa?
Somente o sujeito com a consciência tranquila não sente culpa e esta é conquistada no momento em que o indivíduo assume o compromisso com o seu próximo segundo o preceito do Cristo, procurando sempre fazer todo o bem que está ao seu alcance com total desinteresse. Mesmo que possa haver equívocos no trajeto, a intenção de fazer o bem redime do sentimento de culpa e, ao corrigir a atitude naquilo em que se está errando, isto é, feito sem remorsos e sem grandes transtornos.
Luis Roberto Scholl
1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Edição comemorativa do sesquicentenário. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006. Questões 621,629,632.