No princípio, em um tempo que foge a nossa compreensão, fomos criados, simples e inexperientes, para que através das múltiplas vivências fôssemos ascendendo em sabedoria e amor. Como herança inicial recebemos as Leis Divinas gravadas na nossa consciência, por isso o desejo de encontrar o Criador esteve sempre presente. Sentimento esse, que parte do imo de cada ser, não poderá ser negado nem pelos que se dizem materialistas, pois a obra divina é por si só prova suficiente para que o homem, renunciando ao seu orgulho, reconheça que tudo o que existe, mesmo nesta restrita porção que percebe, é obra de um ser superior a tudo e a todos.
Enquanto militávamos na infância espiritual, como homens primitivos, buscávamos Deus naquilo que não conseguíamos compreender: nos fenômenos da natureza, nos astros, o que gerou o politeísmo onde cada qual se reservava o direito de reverenciar o seu próprio Deus.
Eis que então, através de Moisés, surge a revelação de um Deus único. Ainda que de forma resumida e adaptada às condições daquela época, a primeira revelação veio relembrar as Leis Divinas.
Passados mais alguns milênios, Deus se manifesta novamente na segunda revelação, enviando Jesus para nos falar do amor que o Criador nutre por seus filhos. Veio ensinar como caminhar em direção ao Pai, dizendo que seguindo o seu exemplo, amando, perdoando, servindo a Deus como ele próprio fez, pouco a pouco todas as criaturas aproximam-se do Criador.
Como previu Jesus, sua mensagem foi esquecida por muitos e alterada por outros tantos. A humildade, a caridade, a benevolência, o perdão e o amor ao próximo, modelos de virtudes que nos legou, foram gradativamente sendo esquecidos para atender aos mais escusos interesses. Outros missionários foram enviados a Terra, mas não foram reconhecidos, assim como acontecera com o próprio Cristo.
Decorridos quase 19 séculos, cumprindo-se a promessa de Jesus e sob a coordenação do Espírito de Verdade, surge o Consolador Prometido. A terceira revelação não estava mais centrada num único nome, mas numa doutrina que tem como objetivo primeiro restaurar a mensagem de Jesus na sua pureza originária. É uma Doutrina Consoladora que reforça a idéia de um Deus de amor, de bondade, de justiça e despersonifica Deus, mostrando-o na verdadeira dimensão em que se encontra. Através da Doutrina Espírita, é possível conceber e entender Deus, não mais na forma humana, nem material, muito menos como o próprio Cristo. Fora da Doutrina dos Espíritos fica difícil compreender Deus com um ser infinito, pois todas as tentativas de o perceber levam a imaginar um ser circunscrito e limitado como somos.
Allan Kardec1, para facilitar nossa compreensão, fez a seguinte comparação: “Uma pessoa que se ache no fundo de um vale, envolvido por densa bruma, não vê o Sol. Entretanto, pela luz difusa, percebe que está fazendo sol. Se entra a subir a montanha, à medida que for ascendendo, o nevoeiro se irá tornando mais claro, a luz cada vez mais viva. Contudo, ainda não verá o Sol. Só depois que se haja elevado acima da camada brumosa e chegado a um ponto onde o ar esteja perfeitamente límpido, ela o contemplará em todo o seu esplendor.”
Analogamente o espírito, a medida que se eleva em moralidade, desfazendo-se das imperfeições, essas camadas nevoentas que lhe obscurecem a visão, passa gradativamente a gozar da plenitude das suas faculdades, até que, como privilégio das almas que atingiram a purificação, consegue perceber Deus em toda a sua plenitude.
Cleto Brutes
1Kardec, Allan. A Gênese. 37. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1996. p. 66.