Vícios à luz da Doutrina Espírita (Os)

Os vícios são, sem dúvida alguma, a maior chaga moral da humanidade nos tempos atuais. Segundo o neurocientista Stefen Clein, em seu livro “A Fórmula da Felicidade” quando enveredamos na obtenção dos prazeres grosseiros, a área cerebral estimulada é exatamente a mesma, com larga produção de serotonina e dopamina que nos dão uma sensação transitória de prazer. A má notícia é que, imediatamente após, os hormônios contra-reguladores são liberados dando uma sensação de mal-estar e indisposição. Quando ingerimos bebidas alcoólicas, buscamos a sexolatria sem afetividade, comemos doces exageradamente ou nos drogamos, estamos portanto, estimulando a mesma área do sistema límbico, numa busca desenfreada por serotonina em nosso organismo. O problema é que após a bebida vem a ressaca, após os lautos banquetes a indigestão e a sonolência, após o sexo sem amor, a melancolia e o desinteresse.

A longo prazo, destruímos prematuramente o nosso templo físico, pois, como diz Paulo de Tarso, “o salário do pecado (vício) é a morte.”

Esta a diferença básica entre os prazeres materiais e espirituais: os primeiros são transitórios e imediatamente sucedidos pela dor, levando-nos lentamente a desencarnação prematura; os segundos, embora mais sutis, têm maior durabilidade e nenhuma dor, pois tudo o que se refere ao espírito se eterniza e vivifica por si, pela vinculação intrínseca à Fonte de Tudo.

Esses prazeres espirituais a que me refiro são o bem que fazemos aos outros e a nós mesmos através da caridade, da oração e da meditação. Quando fazemos, por exemplo, uma campanha do quilo ou visitamos um hospital ou abrigo de idosos, sentimos uma agradável sensação que, muitas vezes, persiste a semana inteira.

Uma forma simples, portanto, de vencermos as tendências inferiores é substituirmos os prazeres materiais pelos espirituais, os pensamentos negativos por positivos. Na pergunta 917 de O Livro dos Espíritos, Fénelon nos orienta que a predominância da vida moral sobre a vida material é um poderoso instrumento para enfraquecermos o nosso egoísmo, causa de todos os vícios. Ocuparmos o nosso tempo com leituras edificantes, palestras esclarecedoras e tarefas evangélicas é instrumento valioso para bem empregarmos a nossa libido e direcionarmos nossos pensamentos, preenchendo com sabedoria os horários vagos.

No primeiro mandamento “Amar a Deus sobre todas as coisas” Jesus nos orienta com exatidão como nos libertarmos da escravidão material. Como tudo no Universo está impregnado da Divina Presença, segundo nos esclarece o mestre de Lion no capítulo II de A Gênese (A Providência Divina), ao nos apegarmos a algo material estamos substituindo o Todo pela parte e isso nos causa dor e dependência. Quando direcionamos as nossas mentes para a Fonte, fazemos o processo contrário e, portanto, plenificamos o nosso vazio psicológico pela consciência de plenitude, a solidão pelo Amor Maior, a parte pelo todo, o sofrimento pela felicidade da percepção do contato íntimo com o Cristo, numa forma de prazer infinitamente maior e mais duradoura.

“Amar a Deus sobre todas as coisas” significa, portanto, substituirmos prazeres menores, materiais, grosseiros e efêmeros por um prazer incomensuravelmente maior, mais suave e eterno. Quando seguimos o primeiro mandamento, portanto, colocamos as coisas espirituais acima das materiais, e entramos em contato com a nossa verdadeira Essência, reposicionando-nos nos trilhos da nossa missão na Terra e nos felicitando com a paz espiritual dos justos.

Quando nos auto-destruímos estamos desrespeitando o amor ao próximo porque prejudicamos justamente as pessoas que mais amamos. Nosso cônjuge, filhos, pais e amigos são os mais afetados se os trocarmos pela viciação que antecipará a nossa morte física. Esta é outra forma extremamente eficaz de evitarmos o primeiro gole, a primeira mordida compulsiva ou uma relação extra-conjugal: colocarmos na tela mental a figura das pessoas que amamos e perceber o quanto lhe causaremos dor com nossa atitude!

O maior dos vícios, segundo a pergunta 913 de O Livro dos Espíritos é o egoísmo e a maior virtude é o desinteresse pessoal (questão 893). Portanto a chave da felicidade e da liberdade é submetermos nossa pequena vontade à Vontade Maior, que, num nível mais profundo, também é a nossa e, entrando em contato com o amor que emana dos nossos corações, exteriorizar o Cristo, o Sublime Amor, que nos vivifica e que teve sua maior expressão no meigo rabi da Galiléia.

O amor, portanto, substituirá todas as nossas necessidades, enchendo de alegria todos os instantes da nossa vida e nos conduzindo rumo ao futuro radiante que a todos nos aguarda.

Fernando Neves – Recife – PE
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