Verdadeira Pureza (A)

 Narram os Evangelistas que em certa oportunidade, atendendo ao convite de um fariseu, o Mestre sentou-se à mesa sem ter lavado as mãos, provocando admiração. Percebendo a censura, Jesus assim se pronunciou: “Vós outros, fariseus, pondes grandes cuidados em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniqüidades. Insensatos que sois! Aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior?” (Lc 11, 37- 40).

Esse fato foi comentado em O Evangelho Segundo o Espiritismo1, onde os benfeitores espirituais fazem luz a uma realidade presente em todas as épocas. Os judeus estavam muito apegados aos costumes e regras criados por eles, mas haviam desprezado os verdadeiros mandamentos de Deus. Ainda hoje, muitos cristãos agem à maneira dos antigos judeus, acreditando que garantirão a salvação pelas práticas exteriores, sem cogitar da reforma moral: seguindo dogmas e regras que foram criadas pelos homens para atender os mais escusos interesses. Por isso o Mestre alertou: “arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou” (Mt 15,13). Iludem-se todos, pois como disse Jesus, lembrando o profeta Isaías: “Este povo me honra com os lábios mas o coração está longe de mim; em vão prestam culto, ensinando doutrinas e preceitos humanos” (Mt 15, 8-9).

Narram as escrituras que logo após aquele episódio Jesus chamou o povo e disse: “Escutai e compreendei bem isto: – Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é que o macula. – O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; – porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. – Essas são as coisas que tornam impuro o homem…” (Mt 15, 11-20).

A Doutrina Consoladora, que veio para restabelecer o Cristianismo primitivo, nos esclarece: “O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. Ora, este não chega a Deus senão quando se torna perfeito. Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo. Toda aquela em que o homem julgue poder apoiar-se para fazer o mal, ou é falsa, ou está falseada em seu principio. Tal o resultado que dão as em que a forma sobreleva ao fundo. Nula é a crença na eficácia dos sinais exteriores, se não obsta a que se cometam assassínios, adultérios, espoliações, que se levantem calúnias, que se causem danos ao próximo, seja no que for. Semelhantes religiões fazem supersticiosos, hipócritas, fanáticos; não, porém, homens de bem. Não basta se tenham as aparências da pureza; acima de tudo, é preciso ter a do coração.”2

Essa mensagem vem nos mostrar que somente as construções alicerçadas na verdade, na justiça e na lei de amor serão duradouras. Tudo o que se realiza sem ética, sem moralidade e em desacordo com as Leis universais é efêmero. O tempo se encarregará de mostrar que as realizações embasadas na ignorância e na falsidade, estágios transitórios percorridos por aqueles que se deixam conduzir pelo orgulho e o egoísmo, não se sustentarão.

O erro e o mal existem para que o ser humano conquiste o bem e todas as virtudes, superando as adversidades; por isso, Deus concedeu-lhe a inteligência e a razão para que tivesse olhos de ver e ouvidos de ouvir, para vigiar e orar a fim de não permitir que falsos profetas e falsos cristos o conduzam por caminhos equivocados.

É dever de todos, perceber que modelos, que ídolos, que crenças estão seguindo, sem se permitir serem guiados por cegos, pois como diz Jesus: “Se um cego guia outro cego, ambos cairão no buraco” ( Mt. 15,14).

Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 99. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1988. p. 158.
2Ibidem.