Esta história aconteceu em Nova York, cidade impressionante sob todos os aspectos e em qualquer tempo. Com a chegada do Natal, ela torna-se avassaladora, com vitrines resplandecendo cores, luzes, consumismo. As multidões correm às compras em busca de presentes de última hora.
Nessa época, data em que se comemora o nascimento de Jesus, uma jovem estrangeira sofre do mesmo dilema: viera para os Estados Unidos para morar em uma casa americana para estudar, pagando com o próprio trabalho nesse lar uma parte dos custos de estada e agora, agradecida, desejava presenteá-los sem saber como. Conhecia a realidade deles, possuíam quase tudo que o dinheiro pode dar e nada que pudesse comprar com sua pequena economia faria diferença para eles.
Toda a dúvida e a agitação da cidade fizeram com que, na mente de Úrsula, se formasse uma ideia secreta. Era como que uma voz interna lhe falasse: “É verdade que muita gente nesta cidade tem muito mais que você. Mas certamente há muitos que tem muito menos. Se você pensar neles, poderá encontrar uma solução para o problema que a preocupa”.
Na véspera do Natal, Úrsula dirigiu-se a uma loja de departamentos e, em meio ao tumulto, escolhendo e rejeitando as coisas mentalmente, comprou o que desejava. Mandou colocar em um embrulho bem bonito e partiu.
Na rua, desorientada, perguntou ao porteiro de uma loja:
– Desculpe-me, senhor. Poderia me dizer onde encontrar uma rua pobre?
– Rua pobre? – disse o espantado homem. Certamente encontrará no Harlem ou no Lower East Side.
Como a informação estava incompleta, a jovem resolveu perguntar a um guarda onde ficam estes bairros pobres.
– Estes certamente não são lugares para a senhorita. – asseverou o policial, sem maiores explicações.
Desanimada e com frio, chegou até um cruzamento. Ali havia um homem que estava arrecadando roupas e mantimentos para as comunidades carentes. Encorajou-se e novamente perguntou:
– Eu tenho um vestidinho para um bebê pequenino e pobre, o senhor conhece algum?
– Conheço, sim. Infelizmente, mais de um. Se a senhorita aguardar, eu poderei levá-la até ele.
Juntos no táxi, Úrsula contou a sua história, como tinha vindo parar em Nova York e o que estava querendo fazer. Ao chegar ao velho prédio em ruínas, ela olhou com espanto para a miséria do lugar.
– Eles moram no terceiro andar. – disse o homem. Vamos subir?
– Eles iriam querer me agradecer e isto não é um presente meu. Leve-o lá em cima para mim, por favor. Diga-lhes que veio de alguém que tem tudo. Falou com tanta convicção que o homem não teve outra escolha.
Após agradecer ao senhor que lhe ajudou, no táxi de volta para casa, ficou imaginado-o subindo até o apartamento, dando o presente, explicando os motivos, “sentiu” a felicidade daquela família, e “viu” o bebê com o novo vestido… Quando chegou ao prédio de apartamentos onde morava na 5ª Avenida, começou a remexer na bolsa:
– Não é nada moça – falou o motorista. A senhora já me pagou. Sorriu para ela e partiu.
Na manhã de Natal, após terminar o serviço da casa esperou a família acordar para a troca de presentes. No emaranhado de papéis coloridos e fitas de enfeites, Úrsula agradeceu todos os presentes que recebera. Mais tarde, quando a agitação se acalmou um pouco, ela explicou porque aparentemente não havia presente algum dela para eles. Hesitante, contou toda a história, desde a dúvida do que presentear, até o desfecho no final da noite, no bairro pobre:
– Vocês compreendem – acrescentou ela – eu procurei fazer a caridade em nome de vocês. Este é o meu presente de Natal para vocês…
Aos olhos daquela jovem, a família que a recebera era tão ricamente abençoada que nada que ela viesse comprar aumentaria a fortuna material que já possuíam. E assim ofereceu-lhes algo de valor muito maior: uma dádiva do coração, um ato de bondade praticado em seu nome!
Pode parecer estranho, uma jovem sem “nenhuma importância” para aquela grande cidade, influenciar tantas pessoas. Ao fazer uma pequena doação de ternura ela mexeu com muita gente: ela mesma, o homem da rua, a família carente, o motorista de táxi, a família que a abrigava e todas as pessoas que ficaram sabendo da história.
Ela trouxe à vida das pessoas o verdadeiro espírito cristão do Natal: o espírito de dar e compartilhar sem pensar em si mesmo.
História adaptada pela equipe do Seara Espírita da revista Seleções do Reader’s Digest, de janeiro de 1967.