Heroi é um indivíduo notável positivamente por seus feitos e/ou capacidades; alguém que reúne em si atributos necessários para superar de forma excepcional um determinado problema de difícil solução.
Apesar de a palavra heroi estar muito desgastada pelo uso inadequado que vem sofrendo (artistas, esportistas, participantes de reality show já foram chamados de herois) sempre existiu e existirão pessoas que pelo seu comportamento altruísta e solidário serão consideradas como os verdadeiros herois.
Há vários exemplos na história da humanidade que ficaram famosos enquanto outros continuaram anônimos, mas nem por isso, menos importantes. Alguns foram admirados por uma pequena comunidade ou por poucas pessoas e, pouco a pouco, foram tornando-se conhecidos, servindo de exemplos a todos.
No movimento espírita temos Jerônimo Mendonça, Eurípedes Barsanulfo, Dias da Cruz, Anália Franco, entre outros, figuras extraordinárias, profundamente filantropas, que praticaram o bem para muitas pessoas e, quando conhecem suas histórias, muitos modificam as suas próprias atitudes.
Há de se destacar neste grupo, a personalidade do Padre Germano. Tornou-se conhecido após a desencarnação através do trabalho em parceria de Amália Domingo Sóler, grande dama do espiritismo espanhol e de um médium falante inconsciente de nome desconhecido. Entre 1880 e 1884 Amália anotou junto à médium informações do Espírito Germano e suas memórias, publicando-as como uma novela no jornal espanhol Luz do Porvir, que depois foram unidas em um livro chamado Memórias do Padre Germano. Em 1909 esse livro foi traduzido para o Português e editado pela Federação Espírita Brasileira.
Conhecemos o Espírito através desta sua última reencarnação (quem sabe já teve outras posteriores) como um verdadeiro sacerdote, discípulo do Cristo, consagrando à consolação dos humildes e oprimidos, desmascarando os hipócritas e falsos religiosos que estavam no comando do seu segmento religioso. Foi toda uma vida de perseguições cruéis, ataques injustificados, ameaças de morte, vítima, principalmente, dos seus superiores hierárquicos e dos poderosos da época. Combateu incessantemente a hipocrisia e a corrupção, tanto na sociedade como no seio da Igreja, incluindo aí a temida Ordem dos Penitentes Negros, sociedade secreta com poderes de vida e de morte. Salvou a muitos das garras da opressão, da morte e do cárcere dos conventos. Amou a todos, sem exceção, arrebatando muitas ovelhas desgarradas, guiando-as para o caminho do bem – a verdadeira religião.
Parte do livro é redigido como se estivéssemos lendo seu diário quando encarnado, percebendo as dúvidas e os seus questionamentos íntimos. Na segunda metade da obra, o Espírito Germano, já no plano espiritual, faz uma leitura desta sua reencarnação. Para ele, uma difícil expiação na qual não pode constituir família pelos compromissos assumidos no sacerdócio, obrigação que cumpriu fielmente, apesar de não concordar com este martírio contrário às leis naturais.
Já conhecedor das multiplicidades da existência do Espírito, afirma que, em algumas de suas anteriores reencarnações, foi considerado sábio pelos homens, mas somente nesta em que foi considerado bom pelos da sua comunidade é que a avaliou como a verdadeira redenção espiritual.
Alguns pensamentos do heroi:
– Sou um espírito amante da luz e decidido partidário do progresso.
– Apenas pregarei a verdade, que é a essência do Evangelho.
– (…) as forças de minha Alma não podem inutilizar-se no curto prazo de uma existência terrena.
– (…) transijo com o pecador; jamais, porém, com a iniquidade.
– (…) o homem não deve ser senão mero instrumento do bem universal.
– No mundo devemos sempre refletir para agir, fazendo o que mais vantajoso for para a humanidade.
– Sempre se encontra a felicidade quando se sabe procurá-la.
– Jesus Cristo não veio para nos salvar, mas para nos lembrar do nosso dever.
– (…) o homem só é infeliz porque não vê mais que o presente.
– A vida sem virtudes é lento suicídio.
– Quem não for senhor de si mesmo, não espere ter a força moral, porque esta só se adquire quando se ensaia a vontade na dominação dos apetites.
– (…) os Espíritos nascem iguais; somente o trabalho e a perseverança no bem dão a alguns seres uma certa superioridade moral, privilégio que não é, entretanto, por GRAÇA, mas obtido por JUSTIÇA.
– Oração não é palavra, é sentimento.
Homem desligado das convenções e dos ritualismos – era contrário ao ato de confissão, às romarias, à clausura, ao celibato e outros dogmas – não admitia outra forma de atuação se não a prática do amor e da caridade. A época e o local desta reencarnação não são identificados com precisão. Também não podemos deixar de destacar as aventuras de Sultão, um formoso cão Terra-Nova, o mais fiel e valoroso amigo que Germano encontrou na Terra e que muito o auxiliou na sua tarefa.
Em 1932 Germano novamente manda notícias do plano espiritual. Agora através das abençoadas mãos de Chico Xavier, envia-nos um belíssimo caso de sua vida recheado de profundos aprendizados sob o título Recordações. Primeiramente publicado em O Reformador, posteriormente foi incorporado à obra de Amália Sóler.
Este é um livro que merece ser lido, relido, analisado, sendo possível tirar muitas lições atuais, buscando na figura extraordinária do Padre Germano o exemplo do verdadeiro heroi.
Luis Roberto Scholl