Traição

 – Nossa! Que título “pesado” para uma história.

– Poderia ser pior: “Isto não merece perdão”, por exemplo.

– “Traição” – porque um nome tão trágico assim?

– Eu vou te contar: Lucy e Maysa eram duas meninas extremamente amigas, mais do que irmãs. Eram amigas desde… acho que desde o berço, pois nasceram no mesmo dia e o bercinho de uma ficava ao lado da outra, no hospital. Foram vizinhas na infância, estudavam na mesma escola, mesma sala de aula, nem nas férias se desgrudavam. A ligação era tão forte que quando uma pensava a outra já sabia o que ela queria. Até que…

Um dia Lucy se apaixonou pelo Tony. Ele era “o cara”. Bonito, alto, forte, inteligente, “tudo de bom”…

É claro que Maysa foi a primeira a saber. Sabia de todos os planos e sonhos da sua melhor amiga. Lucy sonhou tanto que, quando acordou, Maysa já estava namorando Tony. Isso não é uma tremenda traição? Não merece perdão. Para Maysa, a decepção não foi menor. Tony não era “tudo aquilo” e o namoro não durou mais que algumas semanas. Agora ela não tinha nem amiga, nem namorado. Lucy se sentiu parcialmente vingada e nunca mais olhou para sua ex-amiga. Em resumo, é esta a história que eu quero contar.

– Eu tenho outro título para esta história.

– E qual é?

– “Perdão” ou “Isto também merece perdão”.

– Lá vem você com seu “papo” espírita de novo… Como perdoar tão grande traição?

– Ora, tudo merece perdão. Jesus já dizia: perdoar não só sete vezes, mas setenta vezes sete, ou seja, infinitamente.

– Mas, e o que fazer com a raiva que ficou?

– É justamente por causa dela que se deve perdoar. Se Lucy se der conta do ódio que carrega dentro dela e o quanto isto a está prejudicando, ela vai ver que não tem outra solução. Você não a percebeu mais mal-humorada, com frequentes dores de cabeça, indisposições estomacais? O ressentimento guardado traz problemas para o Espírito e para o corpo. Como afirmou o grande amigo espiritual André Luiz: guardar ódio é como tomar veneno e querer que o outro morra.

– Então o remédio é simplesmente esquecer?

– Sabemos que não é tão simples assim. Mas o caminho é este e exige esforço e abnegação. Ela pode pensar que sua amiga teve um momento de fraqueza e não soube naquele momento valorizar a profunda amizade que tinha, em troca de uma paixão pueril, um amor de verão. Também pode pensar que ela jamais quis lhe magoar ou trair, mas foi levada por uma fragilidade própria. Mesmo que a Maysa não tenha pedido perdão ou se arrependido, Lucy deve perdoá-la porque isso vai fazer muito bem a ela mesma.

Outra possibilidade: será que na reencarnação passada não foi Lucy que decepcionou ou traiu Maysa em alguma situação da vida? A única forma de acabar com este “círculo vicioso” de traição/vingança é alguém dar o primeiro passo em direção ao perdão.

Dificilmente, mesmo com o perdão, se conseguirá, de início, voltar a se ter uma amizade como era antes. Mas, para começar, não desejar o mal a quem nos prejudicou, nem ficar torcendo para as coisas darem errado já é um bom princípio. Depois disso, é começar a pensar que ela é um ser humano como todos nós, cheio de imperfeições. Necessita aprender, errar, ser perdoado, ter nova chance… Quando se dá conta, a amizade volta, as mágoas vão embora e vê-se que se está mais maduro, mais consciente.

– Gostei desse novo final para a história, afinal, de tudo se deve tirar uma lição. Vou falar com Lucy… Melhor! Você não quer vir junto comigo?

– É claro que vou. Se eu puder ajudar a reatar uma amizade tão bonita, conta comigo.

– E eu já pensei no novo final da história: “Lucy e Maysa: uma linda história de amizade e perdão”.

Luis Roberto Scholl