“Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela.” O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap XVI, item 14.
Raras pessoas se contentam com a vida que têm, com a realidade construída através de suas escolhas diárias; raríssimas pedem apenas o “pão de cada dia”, como símbolo das aquisições indispensáveis. O ser humano, em geral, somente busca Deus para reclamar o que não tem, quase nunca para agradecer o que possui. Ele não procura saber se tem o necessário para a vida eterna (espiritual), porque está ansioso pelo máximo nas coisas transitórias (materiais). Permanece absorvido pelos interesses perecíveis, insatisfeito, inquieto, angustiado pelo que lhe falta, em uma corrida louca pelo imediatismo.
Esquece que a vida é a oportunidade que lhe foi concedida para a evolução própria, sem aproveitar os recursos que lhe são oferecidos e sem contentar-se com o que possui.
Deus impõe a encarnação aos Espíritos com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns é expiação ou prova, para outros, missão. Mas para alcançarem esta perfeição, têm que sofrer as vicissitudes da existência corporal. Estas têm uma causa e uma vez que Deus é justo, essa causa deve ser justa.
Quantos homens tombam por suas próprias faltas? Quantos são vítimas de: imprevidência, orgulho, ambição, falta de ordem, falta de perseverança, má conduta, intemperança e excessos de todo gênero? Que todos os atingidos interroguem friamente sua consciência, que remontem progressivamente à fonte dos males que os afligem e verão que não terão a quem culpar senão a si mesmos, pois todo efeito tem uma causa, e esta o antecede. Porém, uma vez não encontrada esta causa na vida atual, está então na existência precedente. Além disso, alguns sofrimentos suportados nesta vida podem também ser provas escolhidas pelo próprio Espírito para apressar seu adiantamento.
Quando a caminhada regeneradora tem início, os valores morais e intelectuais passam a ser burilados. Os paradigmas são revistos e aperfeiçoados conforme o entendimento do Evangelho e a compreensão da ciência. Assumir total responsabilidade por todas as coisas que acontecem em sua vida, incluindo sentimentos e emoções, é um passo decisivo em direção a nossa maturidade e crescimento interior.
Essencial trocar o sofrimento pelo sacrifício do aprimoramento pessoal. Aos poucos, surge a resignação e o contentamento com o que a vida propicia, tornando amenos os dias, anulando a angústia, o dissabor, convertendo-os em esperança por melhores dias, que chegarão pela porta do conhecimento da realidade espiritual.
Lilian S. D. Lucas