Sabe-se que além do envoltório exterior, o Espírito tem um segundo, semi-material, que chamamos perispírito. A morte não é senão a destruição do primeiro. O Espírito, em seu estado errante, conserva o perispírito que constitui uma espécie de corpo etéreo, invisível para nós no estado normal. Os Espíritos povoam o espaço, e se, num momento dado, o véu que no-los oculta viesse a se levantar, veríamos uma inumerável população se agitar ao nosso redor e percorrer os ares; vê-lo-íamos, sem cessar, aos nossos lados observando-nos e, frequentemente, misturando-se às nossas ocupações e aos nossos prazeres, segundo o seu caráter. A invisibilidade não é uma propriedade absoluta dos Espíritos; a miúdo, se nos mostram sob a aparência que tiveram em sua vida, e existem poucas pessoas que, evocando suas lembranças, não têm o conhecimento de algum fato desse gênero. A teoria dessas aparições é muito simples e se explica por uma comparação que nos é muito familiar, a do vapor que, quanto está muito rarefeito, é completamente invisível; um primeiro grau de condensação torna-o enevoado; quanto mais condensado passa ao estado líquido, depois ao estado sólido. Opera-se alguma coisa análoga pela vontade do Espírito na substância do perispírito; isso não é, de resto, como dissemos, senão uma comparação e não uma assimilação que pretendêssemos estabelecer; servimo-nos do exemplo do vapor para mostrar as mudanças de aspecto que pode sofrer um corpo invisível, mas com isso não inferimos que haja no perispírito uma condensação, no sentido próprio da palavra. Opera-se, em sua contextura, uma modificação molecular que o torna visível e mesmo tangível, e pode dar-lhe, até um certo ponto, as propriedades dos corpos sólidos.
KARDEC, Allan. Revista Espírita. 2. ed. Araras, SP: IDE, 2002. p. 198.