O que acontece com o espírito quando, concluindo mais um ciclo em sua existência, retorna ao mundo espiritual? Quais as surpresas que o aguardam? São os próprios espíritos que vêm nos dizer que as sensações que precedem e seguem à morte são infinitamente variadas e dependentes, sobretudo, do caráter, dos méritos e da elevação moral do espírito que abandona a Terra.
A perda da consciência. Após a morte, há um instante em que o espírito perde a consciência de si mesmo. Deus, que é bom para com todas as criaturas, poupa o espírito das angústias desse momento; por isso, enquanto se cumpre o fenômeno da morte, tira-lhe toda lembrança e sensação. Isso se dá de forma análoga ao que se passa na reentrada do espírito no mundo corpóreo, quando, ante a proximidade do nascimento, perde igualmente a consciência de si mesmo, voltando a perceber-se após o momento em que começa a respirar.
A separação. Extinguindo-se as forças vitais e cessada a vida orgânica inicia-se a separação da alma, quase sempre de forma lenta e gradual. Começa, para alguns, muito tempo antes da morte e só se completa quando se rompem os últimos laços que unem o perispírito ao corpo.
A perturbação. O despertar no mundo dos espíritos normalmente se dá acompanhado de um estado de perturbação, mais ou menos longo e intenso conforme as circunstâncias do desencarne e, principalmente, em decorrência do grau de apego material nutrido no mundo físico. Lentamente, como uma neblina que se dissipa, vai recobrando a consciência, reconhecendo-se como um espírito não mais preso aos laços carnais e, gradativamente, entra em contato com sua história que se perde no tempo e nas incontáveis vivências.
A destinação dos espíritos. Jesus nos alertou que a cada um será dado segundo suas obras, e é após a morte biológica que o espírito se depara com sua própria consciência, sem disfarces e subterfúgios. Despojado do envoltório físico o espírito apresenta-se tal qual é, estampando um quadro vivo dos seus atos, de suas vontades e desejos. O perispírito, que o acompanha em ambos os planos da vida, reflete e guarda, como um grande livro, todos os erros, acertos, todas as conquistas, no campo do conhecimento e da moralidade, que logrou ao longo da sua trajetória imortal. Os pensamentos, ações, aspirações e afinidades determinarão a sua destinação futura, conduzindo-o, como numa força irresistível, para o local de seu merecimento.
Assim, muitos permanecem junto ao corpo físico, assistindo, confusos, ao seu enterro e, junto dele permanecem, até que a natureza o dissolva. O sofrimento que disso advém é conseqüência da sua forma equivocada de viver, acreditando no nada após a morte. Somente o fim do corpo físico desperta-lo-á para a imortalidade da alma. Muitos permanecem vivenciando por um longo período o grande sono para o qual sempre se prepararam, enquanto aguardam o juízo final, que nunca chegará, pois esse julgamento já ocorreu muitas vezes, sem tribunais, sem céu e inferno, apenas diante da própria consciência.
Outros que conquistaram algum merecimento, adormecidos ante o desencarne, são conduzidos por benfeitores espirituais a uma casa transitória ou uma colônia espiritual, onde serão assistidos e orientados no processo de recuperação. Não possuindo méritos poderão ser atraídos pela mesma faixa vibracional de espíritos inferiores a regiões umbralinas; e muitos lá permanecem ignorando inclusive que já morreram.
Os espíritos mais evoluídos, que já conquistaram o conhecimento da vida espiritual e as virtudes exemplificadas por Jesus, são mantidos despertos e assistidos pelos mentores, que os sustentam espiritualmente. Assistem ao velório, às despedidas e até acompanham o corpo ao cemitério, sendo levados, posteriormente, ao destino de que se tornaram merecedores junto de seus amados que os precederam.
Cada espírito, enquanto encarnado, deve preparar-se para essa experiência inevitável, consciente que todo o bem que fizer aqui servirá para suavizar essa passagem.
Cleto Brutes
Referências:
KARDEC, Allan. Revista Espírita. 2.ed. Araras, SP: IDE, 2002. p. 175. v. III.
DENIS, Léon. Depois da Morte. 20.ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000.
BARROS, Jaime Monteiro. Esclarecendo dúvidas. Revista Espírita Allan Kardec. Goiânia. n. 36.