Quem são os materialistas?

A Doutrina Espírita, entre outros objetivos, assumiu o compromisso de combater o materialismo, uma das“chagas da sociedade”, na visão dos Espíritos superiores1.

A justificativa é que “além de errôneos e insensatos, o niilismo e o materialismo produzem conseqüências anti-sociais, pelo desprezo à sociedade e ao amor fraternal, já que o egoísmo é o produto lógico da crença de uma vida que vai se findar para sempre.”2

Destruindo o materialismo, não com discussões violentas e estéreis, mas através do diálogo, do senso lógico, da razão e da serenidade, o Espiritismo auxilia o ser a redirecionar o foco de interesses de sua vida, elevando os objetivos existenciais na aquisição dos valores espirituais perenes, deixando para um segundo plano a busca, hoje ainda exacerbada, das facilidades materiais, das riqueza, da satisfação dos prazeres, aquisições que podem, momentaneamente, saciar o indivíduo, mas que, certamente, não são o caminho da felicidade plena, nem o objetivo reencarnatório dos seres humanos.

Quem já teve contato com a Doutrina Espírita, mais clara tem a visão do ser espiritual que somos, imortais, vindos de reencarnações pretéritas, direcionando-nos para reencarnações futuras, objetivando a felicidade através da superação das imperfeições ainda presentes e, com o véu da vida espiritual descoberto, compreendendo mais facilmente os verdadeiros valores da vida.

Apesar de todo esse manancial de informações, tem o espírita se comportado de acordo com a sua crença e conhecimento?

Encontram-se indivíduos combatendo o materialismo, mas agindo de forma mais materialista que os próprios materialistas, pois direcionam a vida quase que exclusivamente para o conforto financeiro e material, esquecendo-se, ou dando menos importância, ao desenvolvimento espiritual.

Ao priorizar os aspectos materiais deixando a espiritualização para mais tarde, para depois de formado, depois que os filhos crescerem, após passar no concurso público, posteriormente a aposentadoria, não lembra o indivíduo que, não raro, o tempo se escoa rapidamente e o ‘depois’ possivelmente nunca chegue.

A Lei de Ação e Reação não é uma mera hipótese ou teoria, mas uma realidade, uma lei natural, abrangente e justa. As muitas notícias do plano espiritual nos alertam dos efeitos negativos do não-cumprimento dos compromissos assumidos: Espíritos em sofrimento por não se comprometerem com os valores maiores da vida (amor, perdão, solidariedade…); Espíritos atormentados por acreditarem que títulos, diplomas, riquezas seriam suficientes para terem privilégios após a morte; outros angustiados por acreditarem que, por simplesmente seguirem rituais e cultos externos, sem a imperiosa reforma íntima, mereceriam estar ao lado dos ‘eleitos’… Tristes ilusões, erros repetidos, reencarnações após reencarnações!

Se não se leva nenhuma riqueza material para o além-túmulo (até o corpo físico é deixado para virar pó), se somente as qualidades morais são as verdadeiras conquistas do Espírito (estas sim perenes e imorredouras), por que tantos agem como se a matéria e os bens materiais fossem eternos?

Os espiritualistas em geral e os espíritas em particular, devem primeiro combater a chaga do materialismo dentro de si, agindo em conformidade com o ensinamento de Jesus: “meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36) buscando, efetivamente, o Reino do Mestre, ainda aqui na Terra, praticando a “Lei de Amor, Justiça e Caridade”.3

1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, 76.ed Rio[de Janeiro]:FEB,1995. questão 799.
2SOUZA, Juvanir Borges. O Céu e o Inferno 140 anos. Revista Reformador, Rio [de Janeiro], nº 2117, agosto 2005.
3KARDEC, Allan. Idem. 3ª Parte, cap. 11.