No início, o Cristianismo precisou de imagens fortes materializadas nas curas (“milagres”) de Jesus para chamar a atenção do povo incrédulo e endurecido daquela época.
Analogamente, a Doutrina dos Espíritos surge chamando a atenção da humanidade através das chamadas mesas girantes e dos espíritos batedores. Era necessário algum fenômeno novo a fim de dar conhecer a toda a humanidade a existência do mundo espiritual e do permanente intercâmbio entre as várias moradas do nosso universo. Realidade essa que embora existisse desde os primórdios da civilização terrena, seu conhecimento ainda era restrito a um número reduzido de pessoas.
Dentro desse processo de divulgação e expansão da Doutrina Espírita, a Providência Divina permitiu que médiuns curadores realizassem curas, semelhantes as de Jesus, para que a Humanidade pudesse perceber a existência de uma força direcionada para o bem e sendo movida por uma multidão de obreiros do Senhor que militam no outro plano da vida.
Todavia, essa Doutrina não veio apenas para promover a cura de corpos, mas para a cura da alma através da transformação moral da humanidade pelos seus ensinamentos.
Hoje, quando a sua propagação já caminha para um certo grau de maturidade, rompendo as barreias do preconceito, os adeptos são atraídos não tanto pelas curas, mas pela sublime lição de seus princípios. Alcança, então, o seu objetivo maior, de não mais salvar corpos, mas principalmente atingir as almas. Por essa razão, nas casas espíritas, a produção de fenômenos espíritas, gradualmente, vai cedendo lugar ao estudo e à evangelização dos seus freqüentadores.
Kardec, em sua época, já previa essa mudança de enfoque do Espiritismo, quando escreveu na Revista Espírita1, edição de setembro de 1858 e sob o título “Propagação do Espiritismo”:
“Podem-se assinalar, à propagação do Espiritismo quatro fases ou períodos distintos:
1. – A da curiosidade, na qual os Espíritos batedores desempenharam o papel principal para chamar a atenção e preparar os caminhos.
2. – A da observação, na qual entramos, e que pode-se chamar o período filosófico. O Espiritismo é aprofundado e se depura, tende a unidade da doutrina e se constitui em ciência.
Virão em seguida:
3. – O período da admissão, no qual o Espiritismo tomará uma categoria oficial entre as crenças universalmente reconhecidas.
4. – O período da Influência dessas idéias, entrará em um novo caminho moral. Essa influência, desde hoje, é individual; mais tarde, agirá sobre as massas para o bem geral.”
Que possamos fazer parte desse processo de aceitação da Doutrina Espírita, principalmente pela nossa própria transformação e, a partir do nosso exemplo, auxiliar na transformação da humanidade.
1IDE Editora, tradução Salvador Gentile, página 24