No estado errante, e antes de começar nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das coisas que lhe vão acontecer durante a vida?
“Ele próprio escolhe o gênero de provas que deseja sofrer e nisto consiste o seu livre-arbítrio.” O Livro dos Espíritos, questão 258.
Todos os Espíritos que vão renascer têm a sua programação reencarnatória, adequada às suas necessidades evolutivas. Alguns mais aptos participam, ainda na espiritualidade, junto aos seus mentores, da elaboração deste projeto. Outros, menos capazes, rebeldes ou indisciplinados recebem projetos elaborados pelos Espíritos responsáveis, algumas vezes em reencarnações compulsórias, extremamente necessárias para o seu próprio refazimento e reajuste frente às leis divinas por eles fraudadas. Nas duas maneiras, é organizada a programação com interesses específicos para o futuro reencarnante, para que a sua experiência na matéria possa ser de profundo aprendizado para a sua evolução espiritual. Nas palavras do instrutor Alexandre no livro Missionários da Luz: “a reencarnação é o meio, a educação divina é o fim.”
Há o PROJETO BIOLÓGICO OU BIOFÍSICO que consiste no planejamento do corpo físico no qual o Espírito irá reencarnar. Segue, naturalmente, a biologia e a genética dos futuros pais, resultando nos detalhes físicos planejados: altura, biótipo, cor da pele, olhos, cabelo, estética. Ocorre o detalhamento quanto aos sistemas internos: endócrino, cardíaco, muscular, esquelético, respiratório, etc. Neste projeto é levado em conta a necessidade cármica do indivíduo no corpo físico. Poderão ser detalhadas falhas ou imperfeições no corpo que poderão acarretar ou não doenças, de acordo com o seu comportamento quando reencarnado.
Durante e após o nascimento os pais participam do processo, dando sustentabilidade a este projeto através da alimentação sadia, cuidados com a saúde, práticas recreativas e desportivas, entre outras.
Se a pessoa não comprometer o seu corpo com vícios, abusos, violências premeditadas ou desatenções, ele será instrumento qualificado para que, durante a reencarnação, o indivíduo possa quitar débitos, reparar faltas, adquirir benfeitorias.
Quando ocorrem transtornos de ordem físico-patológicas, no decorrer da reencarnação, apesar de todos os cuidados com a saúde, é porque eles foram programados e são necessários para a evolução do Espírito.
A beleza estética ou a fealdade, a perfeição física ou a deficiência, a habilidade aos esportes ou às artes, são resultados de um elaborado planejamento biofísico que pode servir como expiação, prova, resgate, missão e aprendizado ao reencarnado.
No PROJETO SOCIAL estuda-se em qual família o Espírito necessita reencarnar, como se dará o acesso ao estudo, facilidades econômicas maiores ou menores, meio sócio-econômico-cultural em que viverá, tendência profissional, papel na sociedade.
Também aqui, durante a reencarnação, pode-se interferir e modificar o projeto de acordo com a determinação, persistência, vontade e disciplina. Muitas vezes, segundo a ótica materialista, cedendo às tendências mercantilistas, há um desvirtuamento do planejamento profissional, sem analisar aptidões e necessidades do Espírito. Há ainda a programação dos prováveis cônjuge e filhos e com quem será necessário conviver nesta reencarnação.
E, por fim, o mais importante: o PROJETO ESPIRITUAL. É o motivo principal da reencarnação, a oportunidade de crescimento espiritual. Por que reencarnamos? Os outros dois projetos levam para a meta principal: a evolução intelecto-moral.
Aqui, é programada a possibilidade de vitória, de crescer em conhecimento e em capacidade afetiva, em amor e caridade. Se ainda existe a impaciência, a intolerância, o egoísmo, a inveja, esta é a oportunidade valiosa de vencer as tendências negativas, reforçar antigas qualidades e adquirir novas virtudes.
Algumas pessoas não admitem que escolheriam uma vida de dificuldades e problemas, se lhes fosse possível. Elas não se deram conta de que, quando na erraticidade, período entre as reencarnações, o Espírito tem uma ampla visão da posição em que se encontra e onde almeja chegar. Entende então que, para atingir a felicidade, o caminho é árduo e difícil, não negando para si mesmo a oportunidade do sofrimento-resgate como terapia inadiável.
Quando ocorrem alterações no planejamento reencarnatório pelo uso do livre-arbítrio do Espírito encarnado, desviando do caminho por ele mesmo traçado, não há perda total nem se considera como uma reencarnação “perdida”. Haverá prejuízos e danos mas, por outros meios, existirão também aprendizados que poderão conduzi-lo à evolução. É como, se em uma viagem programada de Santo Ângelo a Porto Alegre, não se seguisse o trajeto previamente combinado; se demorará mais, se terá mais sofrimentos, mais percalços mas, ao persistir no ideal, mesmo por caminhos desviados, poderá se chegar ao destino.
O entendimento profundo das dificuldades como necessidades espirituais e o conhecimento da participação na elaboração de grande parte do projeto de reencarnação, principia e facilita o processo de cura do Espírito, a cura real.
A compreensão da lição evangélica a cada um segundo as suas obras através da lei de causa e efeito, certamente favorece a aceitação da colheita do passado, e estimula o indivíduo a promover uma gloriosa semeadura de felicidades para o futuro.
Luis Roberto Scholl