Os Espíritos são os próprios homens despojados do seu invólucro grosseiro e constituem todo um mundo, toda uma população que enche os espaços, circula ao nosso redor, mistura-se em tudo quanto fazemos. Se nos fosse possível levantar o véu que os oculta, os veríamos indo e vindo, seguindo-nos ou nos evitando, segundo o grau de simpatia.
Sendo a alma o que sobrevive ao corpo, leva ela consigo para o além, as qualidades e os defeitos, de acordo com as experiências evolutivas de cada um.
Professando ou não os conceitos Espíritas, crendo ou não na vida após a morte, percebendo ou não a interferência dos Espíritos sobre os homens, realidade e a razão comprovam este inter-relacionamento e a influência, mais ou menos acentuada, dos “mortos” sobre os “vivos”. Allan Kardec pergunta aos Espíritos na questão 459 d’O Livro dos Espíritos se eles influem sobre os nossos pensamentos e ações. A resposta é categórica: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.
Algumas pessoas que percebem a influência entre os dois mundos, mas desconhecem os mecanismos desta ocorrência, procuram através de processos ou fórmulas afastar os maus e atrair os bons Espíritos. Adotam rituais, amuletos, velas, vestimentas especiais, criam palavras cabalísticas, gestos místicos, acreditando que assim estarão livres de influências nefastas.
Todos esses procedimentos nada mais servem do que para a diversão dos Espíritos galhofeiros e brincalhões e, muitas vezes, até atraem os maus, de acordo com as intenções da ação.
Não há nenhuma fórmula ou expediente material que possa servir de preservativo eficaz. Mas então, como podemos nos precaver contra a má influência?
Pode-se estabelecer, como princípio, que os maus Espíritos se encontram ou permanecem onde alguma coisa lhes atrai. Assim, eles se intrometem na vida cotidiana quando encontram sintonia nos pensamentos e nas ações do indivíduo. Entre as causas que os atraem, devemos colocar em primeiro lugar as imperfeições morais de toda a ordem, porque o mal sempre simpatiza com o mal, assim como o bem sintoniza com o bem. Também há, muitas vezes, nos processos reencarnatórios, compatibilidade com Espíritos na erraticidade, comprometimentos com o mal, desde vidas pregressas, sendo estes atraídos por este expediente. De qualquer forma, é sempre a baixa vibração, a sintonia em freqüência inferior, os maus pensamentos que abrem acesso à espiritualidade que ainda se compraz no mal.
A priori, para não os atrair, deve-se evitar tudo o que possa dar abertura para sua influenciação. O propósito que move os Espíritos ainda não comprometidos com a prática evangélica do amor e do perdão como diretrizes para a felicidade é analisar e descobrir os pontos fracos e as falhas morais mais acentuadas das pessoas, exacerbando-as para o cometimento de equívocos, contentando-se em estacioná-las nas más inclinações. O orgulho, a ambição e o egoísmo são os entraves que impedem o homem de evoluir e servem de chamariz para a má influência.
A retidão de pensamentos, as boas intenções, a ação no bem, o perdão incondicional e a prática da caridade nas suas formas mais nobres, são maneiras eficazes de se livrar das influências negativas, pois esses valores entram em contradição com os da espiritualidade inferior.
Encher o coração de bondade e amor e ter as mãos operantes no bem são as fórmulas de atrair e unir-se à benevolência dos Espíritos superiores.
Luis Roberto Scholl
Fonte consultada: KARDEC, Allan. Revista Espírita, vol II, set. 1859. Sobradinho, DF: EDICEL.