Nas últimas edições, abordamos alguns aspectos da vida no mundo espiritual e sempre que estudamos esse assunto surge um questionamento: Por que não lembramos dessa realidade se é no mundo espiritual que permanecemos a maior parte do tempo da nossa vida?
Há alguns fatores que contribuem para que isso ocorra:
a) Esquecimento do passado: para facilitar o aprendizado, a reparação de faltas cometidas e amenizar as aflições, antecedendo a reencarnação, o Espírito passa por um processo de esquecimento do passado1. Esse esquecimento se dá apenas a nível consciente, porque todas as conquistas ficam registradas na sua memória espiritual e interferem na nova existência, pelos sutis canais da intuição. Esse é um dos principais motivos que não nos permite lembrar da dimensão espiritual e das reencarnações anteriores.
b) Limitações físicas: se por ocasião da reencarnação, os registros da nossa memória espiritual também fossem impressos na memória física e nos lembrássemos de tudo o que ocorreu com o Espírito nas suas múltiplas existências, o nosso cérebro físico não conseguiria suportar essa carga de imagens, sensações e emoções. Por isso, o cérebro físico somente registra de forma objetiva as informações captadas através dos sentidos físicos.
c) Aquisições espirituais: a consciência da espiritualidade é uma conquista que faz parte da nossa bagagem espiritual. Por isso para uns é mais fácil do que para outros aceitar a idéia da vida no além-túmulo. Cabe ressaltar que há Espíritos que passam pelo plano espiritual em condições muito aflitivas e não conseguem perceber com clareza a diferença entre uma dimensão e outra. No Livro Libertação2, Gúbio, o instrutor de André Luiz, informa que há milhões de almas humanas que há mais de 10 mil anos não se afastaram ainda da Crosta Terrestre. Desencarnam e reencarnam sem perceber que mudaram de dimensão. Por outro lado, não nos lembramos do mundo espiritual para que não venhamos a negligenciar as coisas terrenas, perdendo interesse de lutar dignamente, até o fim do corpo. Raros Espíritos estão habilitados a viver na Terra, com as visões da vida eterna3. Nisso também reside a misericórdia divina que dá a cada um segundo as suas reais necessidades.
No entanto, essa não-lembrança não nos impede de entrar em contato com a nossa realidade espiritual. Analisando o que pensamos, o que sentimos e como estamos agindo, vamos saber o que somos e o que nos espera no outro lado da vida. Assim como hoje estamos vivendo o resultado das nossas ações passadas, também estamos definindo a nossa destinação no mundo espiritual e em que condições se darão as próximas existências.
Quando, pela desencarnação, as portas do mundo espiritual definitivamente se abrirem para nós, vamos despertar lá com a bagagem de boas ou más ações que construímos, utilizando os talentos e as oportunidades que a vida nos proporcionou.
O grau de felicidade ou infelicidade dependerá da nossa realidade íntima, pois a nível mental estaremos convivendo com as mesmas preocupações e anseios que nos infelicitavam ou nos faziam felizes aqui na terra.
A permanência ou não numa região ou estado infeliz, por mais ou menos tempo, com boas ou más companhias, depende de nós, dos pensamentos, sentimentos, ações, das ligações mentais que estabelecemos no dia-a-dia, bem como dos esforços que empreendemos para vencer os vícios, superar as imperfeições morais e resolver os conflitos íntimos.
Quando entendemos o sentido dessa existência e procuramos viver em consonância com as Leis Maiores, lembrar ou não da passagem pelo mundo espiritual ou do que fomos em outras vidas não influi na nossa trajetória, porque sabemos que acima de qualquer aspecto em particular, todos estamos matriculados nesse educandário terreno para progredir e, enquanto estivermos aqui, a nossa tarefa de aperfeiçoamento moral e espiritual não está concluída.
Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1996. cap. V. Item 11.
2XAVIER, Francisco. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro:FEB,2003. p.35.
3______. Entre a Terra e o Céu. Pelo Espírito André Luiz. 21 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. p. 97.