Todo preconceito beira a irracionalidade, a ignorância e o ódio. Conceituar pessoas pelo seu aspecto físico, classe sócio-econômica ou cultural, implica em separar indivíduos entre bons e maus, bonitos e feios, superiores e inferiores, discriminando-os em bases irreais.
Quando uma criança expõe idéias preconceituosas provavelmente está refletindo a opinião de adultos que a cercam ou traz consigo conceitos próprios de experimentações das reencarnações passadas.
Certa vez uma professora de uma pequena escola interiorana preocupou-se em demonstrar o quanto é sofrida a discriminação, experienciando com seus alunos uma situação inédita.
Dividiu sua classe em dois grupos, os dos olhos azuis e os dos olhos castanhos. No primeiro dia os de olhos azuis seriam os seres inferiores. No outro dia os de olhos castanhos seriam os da classe inferior.
Com a concordância de todos, que encararam aquilo como uma brincadeira, a professora ditou as regras do jogo: como os olhos castanhos são superiores, eles terão algumas vantagens, como exclusividade no uso do bebedouro, ocuparão os melhores lugares na classe, terão um recreio maior, preferência nos brinquedos do parque…
Sob o protesto dos olhos azuis, inferiores, os olhos castanhos disseram que, por serem “mais inteligentes, mais bonitos, mais saudáveis e espertos” era justo esse privilégio.
Por volta do meio dia, se notava nitidamente quem pertencia a “raça superior” e quem era da “raça inferior”. Amizades se desfizeram, as brincadeiras se tornaram segregacionistas, a tal ponto que as crianças de olhos azuis estavam abatidas e desanimadas. Tudo nelas demonstrava derrota. As outras aparentavam felicidade, superioridade, apesar de sentirem-se assustadas com suas próprias atitudes em relação aos seus “antigos amigos”.
No dia seguinte, conforme o combinado, os papeis se inverteram. Os olhos castanhos, agora inferiores, sentiam-se amargurados e infelizes. Os olhos azuis exerciam seu papel de “superiores” felizes, mas, aparentemente, não se mostravam tão mesquinhos como os outros, talvez porque já haviam sentido na pele a discriminação no dia anterior.
No terceiro dia, ocorreu um debate entre a professora e seus alunos com surpreendentes resultados. Alguns relataram que, quando na classe inferior, sentiam-se realmente feios, sujos, incapazes, sem vontade de estudar. Outros, quando superiores, verdadeiramente achavam-se poderosos, acima do bem e do mal, com poderes de humilhar o próximo.
Após encerrar a brincadeira, sentiu-se um alívio entre todos. As crianças analisaram que nem a cor dos olhos, da pele, a religião que professam, a classe social que pertençam, ou qualquer outro fator justificam a discriminação entre os seres ou indicam a sua índole. Todos devem ser respeitados e amados pelo que são e não pelo que tem ou o que aparentam. Concluiram, também, que o preconceito é altamente pernicioso, pois contribui para criar e agravar julgamentos preestabelecidos e provocar sofrimentos e dores sem necessidade.
O “dia da discriminação” foi repetido todos anos, com outras turmas, sempre com resultados muito semelhantes.
O preconceito é um sentimento que pode estar adormecido ou ativo dentro de nós. Sendo ele um entrave para o nosso progresso espiritual devemos, através do autoconhecimento, buscar suas raízes e eliminá-lo antes que assuma proporções incontroláveis.
A reencarnação suprime todos os conceitos de castas, raças, nacionalidade, discriminação por causa do sexo, cor, etimologia, etc, pois poderemos reencarnar em qualquer situação neste ou em outro planeta para aprendizado e evolução. Brian Weis, pesquisador norte-americano, afirmou certa vez que a maneira mais segura de reencarnarmos em determinada religião, raça ou sexo é demonstrarmos um profundo sentimento discriminatório em relação a ela.
Se quisermos viver em uma sociedade justa e fraterna devemos erradicar a chaga do preconceito, começando o trabalho dentro de nós e do nosso lar.
Luis Roberto Scholl