Em algumas pessoas a palavra prece desperta a ideia de pedidos – isso é um grave equívoco, pois a resumiria a um rol de petitórios, muitas vezes sem nexo.
Outros ligam a prece a um ritualismo religioso, resultante de um culto externo, meramente como um formalismo cumpridor de obrigações.
Há pessoas que entendem que Deus criou as leis imutáveis à que todos estão submetidos e que a sorte das criaturas já está traçada; desta forma nada pode ser pedido e a ninguém tem que ser grato, sendo, portanto, inútil orar.
O Espiritismo estudando as leis fluídicas e compreendendo a força do pensamento esclarece o poder da prece, que é também um pensamento dirigido a um fim determinado.
Em relação à Divindade, a prece é um gesto de adoração, de humildade e de submissão, que não se pode recusar sem desconhecer o poder e a bondade do Criador. Recusar a prece em agradecimento a Deus pela vida, pela reencarnação, pelas oportunidades de aprendizado e resgates é um ato extremo do orgulho humano.
Em relação aos Espíritos, que são a alma dos nossos irmãos desencarnados, a prece serve como sinal de simpatia e comunhão de pensamentos. Esta simples lembrança é simpática e benévola a eles, servindo como um suave alívio às suas penas e estímulo aos seus autoaperfeiçoamentos.
Ligar-se em prece a Jesus e aos Espíritos benfeitores é elevar a alma em uma comunhão vibracional benéfica e salutar, que dá força e consolação, coragem e estímulo. Identificando-se com o mundo espiritual, desmaterializa-se, trabalha-se o desapego à matéria – condição essencial à plena felicidade.
Da mesma forma, a prece, internamente, é um excelente recurso contra os pensamentos malsãos, às ideias negativas e às investidas dos Espíritos obsessores ou às influências daqueles que, ainda ligados ao mal, procuram prejudicar a criatura.
Além da ação puramente moral, a prece tem um efeito de certo modo material que resulta da transmissão fluídica. Rejeitar a prece é privar-se de poderoso auxiliar para o alívio dos males espirituais e corporais. Nas aflições, a oração não é só uma prova de confiança e de submissão à vontade de Deus, que a escuta se for pura e desinteressada, mas ainda tem o efeito de estabelecer uma corrente fluídica que leva para longe o pensamento aflito, atraindo para ele, corações simpáticos que se dirigem ao local onde podem ser úteis. Deus socorre aquele que implora, não através de milagres que seriam a derrocada de suas leis sábias e perfeitas, mas através dos Espíritos que, por sua vez, insuflam pensamentos benévolos aos homens que, desta forma, socorrendo uns aos outros, praticam a lei de caridade e solidariedade.
Os Espíritos recomendam a prece em todas as circunstâncias da vida, porque ela predispõe o indivíduo ao recolhimento, à introspecção, à inspiração, condição indispensável ao auxílio das entidades mais elevadas.
Nas reuniões espíritas é dada à prece uma condição especial de sentimento de religiosidade, o que não significa dar-lhe aspecto sectário de uma religião; ao contrário, evitam-se as preces que possam conter caráter e simbologia de um culto religioso.
Portanto, afastado de qualquer formalismo, a verdadeira prece é aquela proferida pelo coração, elevando o pensamento a Deus em louvor, pedindo aquilo que realmente necessitamos para a evolução espiritual e em agradecimento. A prece como afirmam os Espíritos na questão 600 de O Livro dos Espíritos, transforma o homem para melhor porque, ao orar com confiança, ele se torna mais forte contra as tentações do mal e Deus envia bons Espíritos para assisti-lo; é um socorro nunca recusado quando pedido com sinceridade.
Santo Agostinho (Espírito) fala sobre a prece1: “Orai sempre, meus filhos. Já vos disse: a prece é um orvalho benfazejo que deve tornar menos árida a terra ressequida.
(…) Para vós (encarnados) orar é uma abnegação; para nós (Espíritos) é um dever. O encarnado que ora pelo próximo cumpre a nobre tarefa dos puros Espíritos.
(…) Uma de vossas preces é o colar que tirais do pescoço para dá-lo ao indigente; é o pão que tirais de vossa mesa para dar a quem tem fome. É por isso que vossas preces são agradáveis a quem escuta.
(…) Devemos orar; podeis orar. Prece do coração, és a alma das almas, se assim posso me exprimir, quintessência sublime que sobe, sempre casta, bela e radiosa, para a alma mais vasta de Deus.”
Luis Roberto Scholl
1KARDEC, Allan. Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Ano V- 1862. p. 345.