Uma linha imaginária muito tênue separa o estado considerado de sanidade, da anomalia ou desequilíbrio mental. Esta linha altera o seu posicionamento de acordo com a época, cultura e interesses da sociedade.
Transpor o verdadeiro limiar, que é atemporal, é um risco que se corre, à medida que se permite constantes desequilíbrios emocionais nos embates do cotidiano.
Não raro, nos chegam notícias de indivíduos aparentemente “normais” que, por um motivo banal, cometem atos insanos, crimes ou utilizam a violência contra terceiros ou contra si próprio. Nesse caso, a pessoa se encontra em vias de perturbação, no limite e, quando é acionado o gatilho desencadeador da crise, mesmo que a superfície calmaria, no seu íntimo ainda reside um ser violento e em desequilíbrio. O psicanalista Carl Gustav Jung chama a isso de o “nosso lado sombra” – atitudes que ainda constituem o nosso ser, mas que “conscientemente” ou pela educação, não gostaríamos mais de fazer. O Espiritismo nos explica que são ainda imperfeições da alma, que precisam ser superadas e que, algumas vezes, quando em teste, ainda sucumbem às provas mais difíceis.
Muitas vezes não se encontram motivos nesta existência que justifiquem tais atitudes, então percebemos, mais uma vez, a comprovação da pré-existência do Ser e a constatação das interferências espirituais.
Todas as experiências reencarnatórias são armazenadas na memória espiritual de cada um – aprendizados e imperfeições que necessitam ser trabalhadas. Muitas das deficiências vêm adormecidas para que o indivíduo prepare-se adequadamente para o enfrentamento inevitável com a situação educadora; por isso a importância do desenvolvimento espiritual e moral ainda na infância, quando o Espírito está mais suscetível à educação. Quando o momento pré-agendado surge, tem-se o livre-arbítrio para agir de acordo com os novos ensinamentos ou repetir os mesmos erros do passado e cometer novamente delitos contra as leis divinas. Especialmente nestes momentos cruciais é marcante a influência espiritual, tanto dos Espíritos superiores que desejam a nossa vitória contra as imperfeições, quanto dos Espíritos que se comprazem no mal e almejam a nossa queda. É através dos pensamentos e pela livre escolha que podemos optar por esta ou aquela companhia, sintonizando para seguir o caminho do bem ou não.
Alguns seres renascem mais fragilizados pelos próprios comprometimentos do passado, outros superam com mais facilidade os desafios por estarem mais fortalecidos espiritualmente, mas os grandes embates, para não entrar em desequilíbrio mental, ocorrem no campo do pensamento e da ação, nesta própria existência.
É fundamental buscar a serenidade íntima através dos mecanismos eficazes da meditação, da oração e da prática do bem, para que, quando as tempestades surgirem, haja paz de consciência e tranqüilidade interior. A âncora da religiosidade e da espiritualização demonstrará sua importância no auge da borrasca.
Luis Roberto Scholl