Jesus, o Mestre incomparável, quando de sua encarnação aqui na Terra, nos legou através dos seus sermões, parábolas e, principalmente através do exemplo, lições que se imortalizaram no tempo.
A mulher surpreendida em erro é uma dessas inesquecíveis narrativas evangélicas1, mas cuja aplicação prática ainda continua desprezada pela maioria.
“Então, os escribas e os fariseus lhe trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e, pondo-a de pé no meio do povo, disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em adultério; ora, Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as adúlteras. Qual sobre isso a tua opinião?’ Diziam isto para o tentarem e terem de que o acusar. Jesus, porém, abaixando-se, entrou a escrever na terra com o dedo. Como continuassem a interrogá-lo, ele se levantou e disse: – ‘Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.’ – Em seguida, abaixando-se de novo, continuou a escrever no chão. Quanto aos que o interrogavam, esses, ouvindo-o falar daquele modo, se retiraram, um após outro, afastando-se primeiro os velhos. Ficou, pois, Jesus a sós com a mulher, colocada no meio da praça. Então, levantando-se, perguntou-lhe Jesus: – ‘Mulher, onde estão os que te acusaram? Ninguém te condenou?’ Ela respondeu: – ‘Não, Senhor.’
Disse-lhe Jesus: – ‘Também eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar.”
Amélia Rodrigues2, analisando esse acontecimento, observa que:
“Todo o Evangelho se assenta nesta base: da compaixão e da misericórdia.
Ter oportunidade nova, mas não repetir o erro.
Equivocar-se e retificar a atitude.
Nem conivência com a irresponsabilidade nem dureza com a correção.
Todos se podem enganar, no entanto, perseverar no engano é acumpliciamento com a ignorância e a leviandade.
O Reino de Deus, cantado por Jesus, é o amor em todas as latitudes e dimensões a alongar-se pela Terra inteira numa explosão de misericórdia e educação.
(…) Apedrejar a própria consciência, lapidando-a, aprimorando o Espírito para galgar maior expressão de paz e ventura.”
Como a Terra ainda é habitada em grande parte por seres imperfeitos, o erro, a desventura e os escândalos continuarão a ocorrer até que todos os seres espiritualmente ligados a ela, tenham conquistado um estágio evolutivo que os coloque acima do erro.
Por isso a diretriz proposta por Jesus continua muito atual. “Aquele dentre vós que está sem pecado atire a primeira pedra” diante do erro alheio. É a indulgência proposta pela Doutrina Espírita3. “Não tornes a pecar”. É a renovação moral, objetivo único e exclusivo do Espiritismo4.
Portanto, não nos enganemos com os usos e costumes das multidões que continuam apedrejando os seus semelhantes por erros que ainda não são capazes de erradicar de si mesmos. Escolhamos o Cristo como modelo das nossas vidas. Façamos do nosso viver uma luta incessante para nos tornarmos cada dia melhores, mais humanos, mais humildes e mais caridosos para com o nosso irmão, caído pelo engodo das facilidades e das coisas lícitas, mas que não nos convêm.
Cleto Brutes
1João. 8: 3 a 11.
2FRANCO, Divaldo. Luz do Mundo. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. 8. ed. Salvador, BA: LEAL, 2003. p. 96.
3KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1996. cap. X. Itens 16-18.
4 ______. O Livro dos Médiuns. 65. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1999. cap. XXVI. Item 292.