É comum nas reuniões de turmas, onde se encontram antigos colegas que não se vêem há muitos anos, alguém chegar e dizer assim:
– Eu reconheceria você em qualquer lugar… você não mudou nada!
Normalmente isto é levado como um elogio, mas, se analisarmos mais profundamente veremos que isto pode ser uma crítica, porque faz parecer que nem a idade, nem o tempo, nem as experiências nos transformaram. Se respondêssemos assim:
– Isto não é verdade. Todos nós mudamos. O único que não mudou foi o Pedro.
Pedro parecia realmente o mesmo. Continuava a fazer as mesmas coisas de 10 anos atrás, a ter os mesmos interesses, as mesmas conversas, de algum modo era o mesmo acomodado de sempre.
Ninguém quer ser como o Pedro da história, melancolicamente agarrado na segurança da vida rotineira, sem possibilidade de crescimento que as mudanças proporcionam.
Às vezes agimos assim, enraizados nos atavismos do passado, não nos permitindo experimentar o “novo”, pensando: “mas nós fazemos desse modo desde que meu avô era vivo…” Agarramo-nos à juventude e detestamos a aproximação da meia-idade, como tememos deixar uma velha casa ou conquistar novos amigos.
A mudança é necessária, inevitável. Temer a mudança é temer a própria vida. O nosso corpo renova as suas células de períodos em períodos, de tal forma que, quem já apresenta alguns anos de vida praticamente já não tem mais nada do “original”.
Quantas dores poderíamos poupar se considerássemos a mudança como uma real oportunidade para crescer!
Quando deixamos de mudar é que temos que nos preocupar, porque isto significa que nós, como Espíritos, envelhecemos, nos deixando enrijecer.
O pensador norte-americano William James afirmou que aos 25 anos quase todos já temos “um feixe de hábitos” assentado no nosso íntimo, assumindo isso como símbolo da maturidade. Quando Raul Seixas cantava, com um certo exagero para destacar a idéia, que “prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, era para demonstrar a falta de coragem decorrente da perda do arrojo juvenil de correr os riscos necessários para o crescimento.
Como toda a mudança é imperativa, devemos exercitar os nossos “músculos da mudança”, efetuando pequenas alterações na nossa rotina, mantendo-nos ágeis, mental e espiritualmente. Podemos utilizar a sabedoria popular: depois de ter feito uma coisa do mesmo jeito por dois anos, devemos olhá-la com cuidado. Depois de cinco anos, olhemo-la com desconfiança. Depois de dez anos, joguemo-la fora e comecemos de novo!
A Doutrina Espírita nos convida, constantemente, a fazermos reflexões sobre nossa vida, renovando-nos, procurando combater os maus hábitos e vícios antigos. André Luiz1 afirma que o espírita que não progrediu em um período de três anos está estacionário, orientando-o a questionar-se porque age assim e o que deve fazer para se modificar.
A vida é constante mutação. Quando tudo parece acomodado, surge algo desestabilizador: a morte de uma pessoa querida, uma doença inexplicável, a perda do emprego, os sinais da idade, fatos que nos obrigam a reavaliar a existência. Mesmo após a morte, o Espírito continua se modificando e evoluindo para procurar retornar melhor na próxima reencarnação.
Quando alguém lhe disser que você continua o mesmo, reflita sobre esta declaração e veja até que ponto ela é verdadeira. Se ele estiver com a razão, não perca tempo, comece imediatamente a ver quais são as mudanças mais urgentes e parta para a ação. A vida é grandiosamente bela para nos acomodarmos e perdermos oportunidades maravilhosas de mudanças e evolução.
Luis Roberto Scholl
1XAVIER, Francisco e VIREIRA, Waldo. Opinião Espírita. Pelos Espíritos André Luiz e Emmanuel. 9. ed. Uberaba, MG. CEC. 1998.