Para que não seja perturbada a harmonia do universo, Deus criou “leis naturais e imutáveis que não podem ser ab-rogadas ao capricho de cada um; mas, daí a crer-se que todas as circunstâncias da vida estão submetidas à fatalidade, vai grande distância. Se assim fosse, nada mais seria o homem do que instrumento passivo, sem livre-arbítrio e sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a cabeça ao jugo dos acontecimentos, sem cogitar de evitá-los (…). Deus não lhe outorgou a razão e a inteligência, para que ele as deixasse sem serventia; a vontade, para não querer; a atividade, para ficar inativo”1.
Quis Deus que o ser humano ficasse sujeito a Lei do progresso e que esse progresso resulte de seu esforço, para que o fruto do trabalho lhe pertença, da mesma maneira que lhe cabe a responsabilidade do mal que por sua vontade pratique. Desde sua origem, quando ainda simples, sem conhecimentos e experiências, passou a exercitar o seu direito de escolha e, como decorrência disso, é hoje o resultado daquilo que construiu para si mesmo. Essa faculdade que o ser humano tem de escolher o seu próprio caminho é o que se chama de livre-arbítrio.
Essa liberdade de fazer opções está limitada ao estágio evolutivo do espírito. No início, assim como um pai que assiste ao filho nos seus primeiros passos, Deus também supre a incapacidade do espírito na sua infância espiritual. À medida que cresce em moralidade e responsabilidade, o direito à liberdade se amplia.
O livre-arbítrio e o determinismo estarão sempre presentes na vida do espírito. A liberdade está presente no momento de decidir e agir, antes da ação ser executada. Desencadeada a ação, estará diante do determinismo da colheita obrigatória ou lei de retorno. O determinismo está mais vinculado ao plano físico das provas. O mesmo não acontece em relação às provas morais, onde o ser terá o livre-arbítrio para ceder ou resistir às influências das suas fraquezas e imperfeições.
Quando escolhe reencarnar, exercita sua liberdade que será viabilizada pelo determinismo dos desígnios superiores. No planejamento reencarnatório tem a oportunidade de participar da elaboração do projeto da vida futura, mas é a providência divina que cria as condições para que sua vontade se concretize. “Uma vez que opte, exemplificativamente, por retornar à carne num corpo material defeituoso, é preciso a atuação do determinismo para garantir-lhe esse tipo de reencarnação, enviando-o, efetivamente, a um corpo privado de uma determinada condição física”2.
Ante as provas e desafios que, por sua vontade, estarão presentes na sua vida, sempre contará com oportunidades de fazer novas escolhas, as quais poderão amenizar o determinismo da justiça divina, pois todas as boas ações que tiver a iniciativa de praticar estarão suavizando sua caminhada. Diante da dor, sempre poderá optar entre a resignação e a revolta, o que fará uma grande diferença.
Sem perturbar a harmonia das leis universais, a qualquer tempo, Deus poderá atender as súplicas do ser, desde que pelo exercício da vontade, ligue-se a Ele através da oração e principalmente das boas obras. O apóstolo Pedro nos lembrou há muito tempo que “a caridade cobrirá uma multidão de pecados” (1Pd 4, 8).
Por outro lado, há situações em que o determinismo não oferecerá opções de escolha. A morte biológica é uma realidade que não se pode fugir, pois como tudo o que é matéria, o corpo físico também terá o seu ciclo de vida com tempo limitado. A evolução espiritual é outra realidade que ninguém poderá escapar. Tudo progride no universo. Tudo que emana de Deus visa o bem. O mal que ainda é praticado na Terra, como conseqüência do mau uso do livre-arbítrio dos seus habitantes, é transitório. Desse modo, os espíritos, como seres inteligentes da criação, estão predestinados a progredir, mas sempre na medida dos seus esforços.
Assim como não há milagres, também, não há fatalidade nas obras de Deus. Tudo o que acontece tem um motivo justo de ser. Pela ação, ou mesmo pela inércia, a vida se projeta como resultado do exercício do livre-arbítrio de cada ser, o qual é sustentado pelo determinismo da ação do Plano Superior. “A cada um será dado segundo suas obras” (Mt 16,27)
Cleto Brutes
1Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 99. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1988. p. 387.
2Glaser, Abel. Conversando sobre mediunidade. Pelo espírito Cairbar Schutel. Matão, SP: O Clarim, 1993. p.169.