Joana estava muito preocupada com o relacionamento da sua filha Luísa com a avó. Elas não se entendiam, estavam sempre discutindo e pareciam duas crianças birrentas. A avó, já avançada na idade, necessitava de muitos cuidados, o que tirava muito o tempo de Joana com Luísa. A menina, por sua vez, era muito ativa e brincalhona, sempre exigindo a presença da mãe nas brincadeiras. Isso criou um ciúme entre as duas e nenhuma atitude era suficiente para contornar o problema. A avó, com esclerose mental, não tinha condições de entender as necessidades da netinha com a mãe. Joana procurou então a compreensão de Luísa para o problema. Como fazer uma criança aceitar dividir o tempo de sua mãe com outra pessoa?
Primeiro, explicou das necessidades da vovó, contou-lhe, que quando ela, Joana, era pequenina, a vovó a cuidava e dedicava todo o tempo para educá-la. Lembrou-se de um fato na sua juventude em que esteve muito doente e a sua mãe havia ficado por semanas com ela no hospital.
Aquela conversa de certa forma ajudou Luísa a entender um pouco mais a situação, mas mesmo assim, o problema não estava resolvido, ela ainda teria que dividir a atenção da mãe.
– Eu odeio a vovó!- disse a menina certa vez, no auge da sua fúria, quando a mamãe se ausentou o dia inteiro, levando a avó para vários médicos.
– Não. Não é verdade, você não odeia, você gosta da vovó – tentou convencer D. Joana.
– Eu odeio, sim. Tomara que ela não volte mais…
Joana já havia experimentado este diálogo outras vezes e sabia que ele não funcionaria. No método antigo forçaria a criança dizer que gosta da vovó, mesmo a base de castigos. O aprendizado seria para a criança que, se ela mentir, não recebe castigo.
Resolveu atuar de outra maneira utilizando a linguagem de afeto. Desta forma compreende-se o sentimento do outro, procura identificá-lo e auxilia também o outro a defini-lo. Resolveu, então, mudar o rumo do diálogo:
– Querida, imagino como você está se sentindo. Eu sei que você gostaria de passar o dia com a mamãe. Isso não foi possível hoje. Amanhã nós iremos fazer um programa juntas. Realmente, você não é obrigada a gostar da vovó, mas espero que a respeite. Por respeitar a vovó e por amá-la é que a mamãe tem todos esses cuidados com ela. Em vez de brigar, você também poderia ajudar!
– É mesmo, mamãe? Eu não vou atrapalhar? O que eu posso fazer?
– Claro que não, querida! Há muitas coisas em que você pode auxiliar…
Na linguagem do afeto e na compreensão dos sentimentos de Luísa, Joana percebeu que a menina se sentia excluída da família, porque não era chamada para cooperar. Agora, sempre que atendia sua mãe, levava Luísa junto, dando-lhe pequenas tarefas no cuidado da enferma.
– Sabe mãe, não tenho mais ódio da vovó – disse Luísa depois de algum tempo. Na verdade, eu a amo muito e torço para que ela não vá embora. Quando você ficar velhinha, eu também vou te cuidar, assim como você faz com ela.
Texto de autoria da Equipe do Seara Espírita.