Dionísio era um jovem sem juízo e irresponsável quando subiu ao trono da Sicília. Convencido de que seu comportamento era fruto da educação descuidada da infância, seu tio o incentivou a se aproximar dos sábios e filósofos. Dionísio, entusiasmado, chegou a trazer Platão duas vezes em Siracusa, para conviver, durante alguns meses com aquele que foi um dos maiores pensadores de todos os tempos.
Riqueza imensurável, poderio militar extraordinário, temeridade dos povos vizinhos, poucos imperadores tiveram tanto poder quanto ele. Foi assim, no auge do poder que sua vida teve uma reviravolta espetacular: o povo de Siracusa, cansado de tanta tirania revoltou-se e o destituiu do trono. Viu sua família ser barbaramente executada e a sua própria vida, poupada no exílio para que, na miséria e humilhação, sofresse mais duro castigo do que a morte.
Dionísio foi enviado a Corinto onde, na miserabilidade, se tornou atração aos gregos, impressionados com o que o destino pode fazer com o homem: antes rei poderoso, temido por todos e dono de palácios e depois, deplorável, digno de piedade, convivendo com prostitutas e bêbados, no porto da cidade.
Alguns mais afoitos o interrogavam de que servira a convivência com Platão e os demais filósofos se sua vida só andara para trás. Para estes, Dionísio respondia que se não fosse a filosofia, ele não teria suportado tanto revés na sua vida. Sentia ainda a dor da perda da família, do seu reino e não se tornara um submisso sem capacidade de reação. Mas a filosofia o havia ensinado que a felicidade do mundo é efêmera, precária e que é inútil o desespero quando aquilo que acontece não depende só de nós. Como um cão amarrado por uma longa corda a uma carroça em movimento, não temos muita escolha: ou tentamos nos opor à tração irresistível do veículo ou trotamos no mesmo sentido, aproveitando, como pudermos a relativa liberdade que o cumprimento da corda nos dá. Entende a condição humana quem consente com as leis divinas, guiadas pelo destino que nós mesmos traçamos; quem resiste, termina sendo levado de arrasto.
Na Doutrina Espírita compreendemos que o destino que estamos vivendo no presente é resultado de livres escolhas feitas no passado, assim como as que fazemos hoje nos remetem a um futuro que estamos semeando.
A lei natural e irresistível é a lei do progresso<sup1< sup=””>: Sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem o poder de opor-se a ele. É uma força viva, que as más leis podem retardar, mas não sufocar. Quando estas leis forem incompatíveis com o progresso, são aniquiladas juntamente com os que se esforçam por mantê-las. E assim será, até que o homem tenha posto suas leis em conformidade com a justiça divina, que quer o bem para todos e não a imposição de leis feitas pelo forte em detrimento do fraco.
Luis Roberto Scholl
1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB. Comentário de Kardec à questão 781-a.