Os únicos requisítos que nos habilitam a sentir um pouco de ventura na Terra consistem nas duas elementares condições da Esperança e da Fé.
E assim, afastando de si estas duas possibilidades – enfraquecida a fé e perdida a esperança – fatalmente será conduzido ao desespero, condição em que reside a suprema desgraça.
A descrença e o desespero formam um ambiente psíquico incompatível com qualquer disposição feliz, mesmo quando nos sejam favoráveis as condições externas.
Desalentados, abatidos ao peso das vicissitudes da luta, resultante da constante injunção com os elementos contrários, sem fé — bússola a nortear a nossa rota — sem esperança — farol a iluminar as trevas da noite de nossos erros, irremediavel será o desespero do Espírito, asfixiado em seus pensamentos materiais.
A fé e a esperança são virtudes tão intimamente ligadas que, por assim dizer, constituem uma só e única virtude.
Há ainda uma outra condição moral que torna menos amarga a existência tão plena de dores, tão cheia de sofrimentos fisicos e morais.
Esta condição moral é a caridade, ação resultante do altruísmo que, pela afeição que nos prende as outras criaturas: aos semelhantes pela amizade, aos superiores pela veneração e aos inferiores pela bondade.
O essencial para a felicidade é ter o coração dignamente ocupado.
Vestir o Espírito com as roupagens dos sentimentos de abnegação por nosso próximo, envolver nosso coração nas vestes dos sentimentos altruísticos e elevados, é dever indispensável a todo aquele que envereda pelo caminho da sua reforma moral.
Sem experimentar essas doces cadeias de flores que, pelo sentimento, nos ligam à vida, comunicando-lhe todo o encanto que a vida comporta, como experimentar a sensação de felicidade?
Dos gozos da caridade costumamos guardar uma recordação, uma doce saudade, que é o que fica de melhor das coisas boas deste mundo.
Não nos perturba a paz de consciência e, quando a generosidade de nós exige um esforço, sentimos, como prêmio desse sacrifício, que todo o coração se banha em uma amorável e confortante doçura.
Só o amor, puro, elevado e santo — amor a DEUS sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos — é duradouro, é eterno, porque é a emanação de Deus, envolvendo suas criaturas, como o pai amoroso envolve seus filhos em doces e carinhosos olhares.
Quando o infortúnio ferir nossas almas, iluminemos nosso coração, impregnado-o das condições de felicidade e do dever.
Se não amarmos o dever, a felicidade fatalmente nos será estranha.
A realização do natural destino das criaturas importa na aquisição de elementos de felicidade, não da felicidade egoística que procura os gozos efêmeros, que se satisfaz com os apetites grosseiros, mas a felicidade que encontra oportunidades no sofrimento e crescimento na dor.
O esforço insensato para fugir ao resgate da dívida contraída pelo nosso passado criminoso e do nosso presente equivocado acaba por comprometer uma infinidade de existências.
Consideramos geralmente um mal tudo o que contraria nossos desejos ou embarga nossa espontaneidade, esquecidos de que os obstáculos são úteis ao nosso progresso. Cabe-nos, pois, o dever de disciplinar nosso instinto de revolta, para fazermos em nós a transformação necessária.
Este não é certamente o melhor de todos os mundos, tanto que alenta-nos a esperança de uma outra existência, compensadora das amarguras e tormentos da presente vida. Mas compete-nos sermos tão felizes quanto é possível na Terra.
Façamos, pois, esforços no sentido de adquirir como patrimônio espiritual estes sentimentos: FÉ, ESPERANÇA e CARIDADE.
Luis Roberto Scholl
Fonte de consulta: www.universoespirita.org.br, Projeto Reformador, texto de L. T. MATTOS. O Reformador, novembro de 1911.