Leis Divinas (Naturais) e Leis Humanas 02

         Objetivo: explicar a diferença entre as Leis Divinas e as leis humanas, exemplificando sobre consciência, o bem e o mal.

         Primeiro momento: prece inicial.

         Segundo momento: contar a história Sinal Vermelho.

Sinal Vermelho
         Minha mãe, dirigindo o carro, parou para aguardar o sinal verde. Enquanto esperávamos, um carro e uma moto ultrapassaram o sinal vermelho.
         Nós duas nos olhamos e eu perguntei:
         - Não está vermelho o sinal?
         Minha mãe respondeu afirmativamente.
         - E por que eles passaram?
         - Boa pergunta. Não sei por que eles desobedeceram às leis de trânsito. Felizmente não houve um acidente, mas algo muito grave poderia ter acontecido.
         O sinal abriu e seguimos rumo à escola. Foi quando minha mãe indagou:
         - Você sabe a diferença entre as leis humanas e as leis divinas?
         - Não, não sei – eu realmente não sabia.
         - As leis divinas regem o Universo e não mudam, como a lei de reencarnação e a lei de evolução. As leis humanas são elaboradas pelos seres humanos e mudam, conforme a época e a evolução do povo. Devemos obedecer às leis humanas, porque elas ajudam as comunidades a viver em harmonia. Já pensou se ninguém respeitasse as leis de trânsito? Quantos acidentes!
         - O mundo seria uma bagunça! Sem leis seria o caos – pensei alto.
         - Isso mesmo – mamãe concordou. Mas há um detalhe: as pessoas podem desrespeitar as leis humanas sem efeitos imediatos, como o motorista que passou o sinal vermelho, porém, ninguém foge às leis divinas. Todas as nossas atitudes tem consequências, boas ou más, conforme a ação praticada. É a lei de causa e efeito, a que todos estamos sujeitos.
         - Então aqueles motoristas vão sofrer um acidente mais tarde, porque passaram o sinal vermelho?
         - Não necessariamente. Mas todas as nossas atitudes, boas ou más ficam registradas no nosso “livro da vida”.
         - “Livro da vida”? Nunca ouvi falar...
         - Uns chamam de “livro da vida”, outros de consciência. É onde estão registradas as leis divinas, e também nossas atitudes e pensamentos. E quando desencarnarmos, e fizermos uma análise da última existência, acessaremos esses arquivos de memória. Por isso aquele ensinamento de Jesus: “Vigiai e orai”! Vigiai os seus pensamentos e ações, a fim de não realizar escolhas erradas, que tragam tristeza e arrependimento no futuro.
         Minha mãe e eu somos espíritas. Essa foi mais uma das lições que aprendemos juntas.
         Ainda falta muito tempo mas, quando eu dirigir meu carro, já sei que devo obedecer as leis de trânsito. Porque, em harmonia com as leis humanas e divinas, estou no caminho da evolução e da felicidade.

         Terceiro momento: conversa dialogada sobre a história.

         Quarto momento: vivência - entregar para cada evangelizando um papelzinho vermelho e outro verde. No papel vermelho deverão escrever uma lei humana e no papel verde uma Lei Divina. Colocar um grande cartaz com as cores verde e vermelha e cada evangelizando compartilhará suas leis, colando-as no lugar adequado.

         Quinto momento: momento do Evangelho (leitura de um trecho pequeno, uma linha ou parágrafo de O Evangelho segundo o Espiritismo) e prece de encerramento.

         Subsídios ao evangelizador: questões de O Livro dos Espíritos, Livro Terceiro, capítulo I. http://evangelizacaoesp.blogspot.com.br/2013/06/lei-divina-ou-natural.html

         Leis Universais - publicado no jornal Seara Espírita
         O que são Leis Universais? São leis naturais, criadas por uma Inteligência Suprema que, não importando o local nem a dimensão em que se encontram, obedecem aos mesmos princípios e atingem a todos.
         Deus, a causa primária de tudo, criou as Leis Universais perfeitas e imutáveis para o equilíbrio e harmonia dos universos e dos seres que os habitam.
         Na atualidade, as ciências, principalmente a Física, dedicam-se ao estudo da GUT (iniciais inglesas para Teoria da Grande Unificação), buscando promover a unificação do conjunto de fenômenos, aparentemente diversos entre si, mas que são, de fato, aspectos de uma mesma coisa.
         Galileu Galilei foi o primeiro a formular a teoria de que todos os fenômenos físicos do universo obedecem as mesmas leis (“Simetria Galileana”), seguido por Isaac Newton, Faraday, Ampère e muitos outros.
         Quando observamos o simples brinquedo dos patinhos imantados, que se movimentam em uma bacia com água, sob a ação do imã, compreendemos que aí também se encontram os segredos dos mecanismos do universo e do movimento dos planetas, pois as leis universais manifestam-se desde as pequenas até as grandes coisas.
        Tanto as leis físicas, como as leis morais possuem o princípio da universalidade. A reencarnação, a lei de causa e efeito, a lei de evolução através do amor são Divinas, imutáveis e atingem a todos. Sábio é aquele que procura descobrir as leis e segui-las.
         Quem não entende a necessidade de amar a Deus e ao próximo, vive em atribulações, até compreender que fomos criados pelo Amor, para amar.
         Quem não percebeu o valor do perdão, sofre as consequências do ódio e acentua as suas dificuldades.
         Quem acredita que pode burlar as Leis Divinas, como burla as leis dos homens, está fadado a ter que recomeçar inúmeras vezes até compreender que Deus é a Sabedoria Absoluta.
         Quem exercita o bem, auxilia os sofredores, pratica o perdão, enfim, quem AMA, sente-se amado e gratificado com o amor que distribui. Compreende que a lei do Amor é universal e o único meio de atingirmos a felicidade que almejamos.

         Fontes: O Livro dos Espíritos, (conclusão) Allan Kardec
         Filosofia Espírita (Volume III), João Nunes Maia/Miramez (espírito)
         Editora Espírita Cristã Fonte Viva
         Revista Presença Espírita Janeiro/Fevereiro 2002 – Editora LEAL

         Caracteres da lei natural
         614. Que se deve entender por lei natural?
         “A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou deixar de fazer, e ele só é infeliz quando dela se afasta.”

         615. É eterna a lei de Deus?
         “Eterna e imutável como o próprio Deus.”

         616. Será possível que Deus em certa época haja prescrito aos homens o que noutra época lhes proibiu?
        “Deus não se engana. Os homens é que são obrigados a modificar suas leis, por serem imperfeitas. As de Deus, essas são perfeitas. A harmonia que reina no universo material, como no universo moral, se funda em leis estabelecidas por Deus desde toda a eternidade.”

         617. As leis divinas, que é o que compreendem no seu âmbito? Concernem a alguma outra coisa, que não somente ao procedimento moral?
         “Todas as leis da Natureza são leis divinas, pois que Deus é o autor de tudo. O cientista estuda as leis da matéria, o homem de bem estuda e pratica as da alma.”

         a) – Dado é ao homem aprofundar umas e outras?
         “É, mas uma única existência não lhe basta para isso.”
        Efetivamente, que são alguns anos para a aquisição de tudo o de que precisa o ser, a fim de se considerar perfeito, ainda que se pense apenas na distância que vai do selvagem ao homem civilizado? Insuficiente seria, para tanto, a existência mais longa possível. Ainda com mais forte razão o será quando curta, como é para a maior parte dos homens.
         Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: as leis físicas, cujo estudo pertence ao domínio da Ciência.
        As outras dizem respeito especialmente ao homem considerado em si mesmo e nas suas relações com Deus e com seus semelhantes. Contêm as regras da vida do corpo, bem como as da vida da alma: são as leis morais.

         618. São as mesmas, para todos os mundos, as leis divinas?
         “A razão está a dizer que devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e adequadas ao grau de progresso dos seres que os habitam.”

         Conhecimento da lei natural
         619. A todos os homens facultou Deus os meios de conhecerem Sua lei?
         “Todos podem conhecê-la, mas nem todos a compreendem. Os homens de bem e os que se decidem a investigá-la são os que melhor a compreendem. Todos, entretanto, a compreenderão um dia, porquanto forçoso é que o progresso se efetue.”
         A justiça das diversas encarnações do homem é uma consequência desse princípio, visto que em cada nova existência sua inteligência se acha mais desenvolvida, e ele compreende melhor o que é bem e o que é mal. Se numa só existência tudo lhe devesse ficar ultimado, qual seria a sorte de tantos milhões de seres que morrem todos os dias no embrutecimento da selvageria, ou nas trevas da ignorância, sem que deles tenha dependido o se esclarecerem? (171-222)

         620. Antes de se unir ao corpo, a alma compreende melhor a lei de Deus do que depois de encarnada?
         “Compreende-a de acordo com o grau de perfeição que tenha atingido e dela guarda a intuição quando unida ao corpo. Mas os maus instintos do homem fazem com que ele frequentemente a esqueça.

         621. Onde está escrita a lei de Deus?
         “Na consciência.”

         a) – Visto que o homem traz em sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de lhe ser ela revelada?
         “Ele a esquecera e desprezara. Quis então Deus lhe fosse lembrada.”

         622. Confiou Deus a certos homens a missão de revelarem a Sua lei?
         “Indubitavelmente. Em todos os tempos houve homens que tiveram essa missão. São Espíritos superiores, que encarnam com o fim de fazer progredir a Humanidade.”

         623. Os que têm pretendido instruir os homens na lei de Deus não se enganaram algumas vezes, fazendo-os frequentemente transviar-se por meio de falsos princípios?
         “Certamente podem ter dado causa a que os homens se transviassem aqueles que não eram inspirados por Deus e que, por ambição, atribuíram-se uma missão que lhes não fora confiada. Todavia, como eram, afinal, homens de gênio, mesmo entre os erros que ensinaram grandes verdades muitas vezes se encontram.”

         624. Qual o caráter do verdadeiro profeta?
         “O verdadeiro profeta é um homem de bem inspirado por Deus. Podeis reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Impossível é que Deus se sirva da boca do mentiroso para ensinar a verdade.”

         625. Qual o tipo mais perfeito que Deus já ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?
         “Jesus.”
         Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei do Senhor, porque o espírito divino o animava, e porque foi o ser mais puro de quantos têm aparecido na Terra.
        Quanto aos que, tendo pretendido instruir o homem na lei de Deus, transviaram-no por meio de falsos princípios, isso aconteceu por haverem deixado que os dominassem sentimentos demasiado terrenos, e por terem confundido as leis que regulam as condições da vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos apresentaram como leis divinas simples leis humanas estatuídas para servir às paixões e dominar os homens.

         626. Só por Jesus foram reveladas as leis divinas e naturais? Antes do seu aparecimento, o conhecimento dessas leis só por intuição os homens o tiveram?
      “Já não dissemos que elas estão escritas por toda parte? Desde os séculos mais longínquos, todos os que meditaram sobre a sabedoria têm podido compreendê-las e ensiná-las. Pelos ensinos, mesmo incompletos, que espalharam, prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas no livro da Natureza, possível foi ao homem conhecê-las, logo que as quis procurar. Por isso é que os preceitos que consagram foram, desde todos os tempos, proclamados pelos homens de bem; e também por isso é que elementos delas se encontram, se bem que incompletos ou adulterados pela ignorância, na doutrina moral de todos os povos que já saíram da barbárie.”

         627. Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão? Terão que nos ensinar mais alguma coisa?
         “Jesus empregava amiúde, na sua linguagem, alegorias e parábolas, porque falava de conformidade com os tempos e os lugares. Faz-se mister agora que a verdade se torne inteligível para todo mundo. Muito necessário é que aquelas leis sejam explicadas e desenvolvidas, tão poucos são os que as compreendem e ainda menos os que as praticam. A nossa missão consiste em abrir os olhos e os ouvidos a todos, confundindo os orgulhosos e desmascarando os hipócritas: os que vestem a capa da virtude e da religião, a fim de ocultarem suas torpezas. O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância, e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.”

         628. Por que a verdade não foi sempre posta ao alcance de toda gente?
         “Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.
         “Jamais permitiu Deus que o homem recebesse comunicações tão completas e instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia, como sabeis, na Antiguidade alguns indivíduos possuidores do que eles próprios consideravam uma ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que, aos seus olhos, eram tidos por profanos. Pelo que conheceis das leis que regem estes fenômenos, deveis compreender que esses indivíduos apenas recebiam algumas verdades esparsas, dentro de um conjunto equívoco e, na maioria dos casos, emblemático. Entretanto, para o estudioso, não há nenhum sistema antigo de filosofia, nenhuma tradição, nenhuma religião que seja desprezível, pois em tudo há germens de grandes verdades que, se bem pareçam contraditórias entre si, dispersas que se acham em meio de acessórios sem fundamento, facilmente coordenáveis se vos apresentam, graças à explicação que o Espiritismo dá de uma imensidade de coisas que até agora se vos afiguraram sem razão alguma, e cuja realidade está hoje irrecusavelmente demonstrada. Não desprezeis, portanto, os objetos de estudo que esses materiais oferecem; são muito ricos e podem contribuir grandemente para vossa instrução.”

         O bem e o mal
         629. Que definição se pode dar da moral?
         “A moral é a regra de bem proceder, isto é, a distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”

         630. Como se pode distinguir o bem do mal?
         “O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus; fazer o mal é infringi-la.”

         631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?
         “Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para distinguir um do outro.”

         632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal, e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?
         “Jesus disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”

        633. Essa regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, é inaplicável ao proceder pessoal do homem para consigo mesmo. Achará ele, na lei natural, a regra desse proceder e um guia seguro?
         “Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal. Pois bem: é Deus quem vos dá a medida daquilo de que necessitais. Quando excedeis dessa medida, sois punidos. Em tudo é assim. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades. Se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento. Se atendesse sempre à voz que lhe diz basta, evitaria a maior parte dos males cuja culpa lança à Natureza.”

         634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?
        “Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência e, para isso, que conheça o bem e o mau. Eis por que há união do Espírito ao corpo.” (119)

         635. Das diferentes posições sociais nascem necessidades novas que não são idênticas para todos os homens. Não parece poder inferir-se daí que a lei natural não constitui regra uniforme?
         “Essas diferentes posições são da natureza das coisas e conformes à lei do progresso. Isso não infirma a unidade da lei natural, que se aplica a tudo.”
         As condições de existência do homem mudam de acordo com os tempos e os lugares, do que lhe resultam necessidades diferentes e posições sociais apropriadas a essas necessidades. Pois que está na ordem das coisas, tal diversidade é conforme à lei de Deus, lei que não deixa de ser una quanto ao seu princípio. À razão cabe distinguir as necessidades reais das factícias ou convencionais.

         636. São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal?
        “A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.”

         637. Será culpado o selvagem que, cedendo ao seu instinto, se nutre de carne humana?
         “Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem: tanto mais culpado é o homem, quanto melhor sabe o que faz.”
         As circunstâncias dão relativa gravidade ao bem e ao mal. Muitas vezes, comete o homem faltas que, nem por serem consequência da posição em que a sociedade o colocou, se tornam menos repreensíveis. Mas a sua responsabilidade é proporcional aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem esclarecido que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos.

         638. Parece, às vezes, que o mal é uma consequência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da lei de Deus?
         “Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência. Então, mais culpado é o homem, quando o pratica, porque melhor o compreende.”

         639. Não sucede frequentemente resultar o mal que o homem pratica da posição em que os outros homens o colocam? Quais, nesse caso, os mais culpados?
         “O mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram, porque cada um será punido não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar.”

         640. Aquele que não pratica o mal, mas que se aproveita do mal praticado por outrem, é tão culpado quanto este?
        “É como se o tivesse praticado. Aproveitar do mal é participar dele. Talvez não fosse capaz de praticá-lo; mas se, achando-o feito, dele tira partido, é que o aprova; é que o teria praticado, se pudera, ou se ousara.”

         641. Será tão repreensível desejar o mal quanto fazê-lo?
         “Depende. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseje praticar, sobretudo quando haja possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja.”

         642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura bastará que o homem não pratique o mal?
         “Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

         643. Haverá quem, pela sua posição, não tenha possibilidade de fazer o bem?
         “Não há quem não possa fazer o bem. Somente o egoísta nunca encontra ensejo de o praticar. Basta que se esteja em relações com outros homens para que se tenha ocasião de fazer o bem, e não há dia da existência que não ofereça, a quem não se ache cego pelo egoísmo, oportunidade de praticá-lo. Porque fazer o bem não consiste, para o homem, apenas em ser caridoso, mas em ser útil, na medida do possível, todas as vezes que o seu concurso venha a ser necessário.”

         644. Para certos homens, o meio onde se acham colocados não representa a causa primária de muitos vícios e crimes?
         “Sim, mas ainda aí há uma prova que o Espírito escolheu, quando em liberdade, levado pelo desejo de expor-se à tentação para ter o mérito da resistência.”

         645. Quando o homem se acha, de certo modo, mergulhado na atmosfera do vício, o mal não se lhe torna um arrastamento quase irresistível?
         “Arrastamento, sim; irresistível, não; porquanto mesmo dentro da atmosfera do vício com grandes virtudes às vezes deparas. São Espíritos que tiveram a força de resistir e que, ao mesmo tempo, receberam a missão de exercer boa influência sobre os seus semelhantes.”

         646. Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra: será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem?
         “O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.”

         Divisão da lei natural
         647. A lei de Deus se acha contida toda no preceito do amor ao próximo, ensinado por Jesus?
       “Certamente esse preceito encerra todos os deveres dos homens uns para com os outros. Cumpre, porém, se lhes mostre a aplicação que comporta, do contrário deixarão de cumpri-lo, como o fazem presentemente. Ademais, a lei natural abrange todas as circunstâncias da vida, e tal preceito compreende só uma parte da lei. Aos homens são necessárias regras precisas; os preceitos gerais e muito vagos deixam grande número de portas abertas à interpretação.”

         648. Que pensais da divisão da lei natural em dez partes, compreendendo as leis de adoração, trabalho, reprodução, conservação, destruição, sociedade, progresso, igualdade, liberdade e, por fim, a de justiça, amor e caridade?
         “Essa divisão da lei de Deus em dez partes é a de Moisés, podendo abranger todas as circunstâncias da vida, o que é essencial. Podes, pois, adotá-la, sem que, por isso, tenha qualquer coisa de absoluta, como não o tem nenhum dos outros sistemas de classificação, que todos dependem do prisma pelo qual se considere o que quer que seja. A última lei é a mais importante, por ser a que faculta ao homem adiantar-se mais na vida espiritual, visto que resume todas as outras.”
         Fonte: O Livro dos Espíritos




[Segundo Ciclo]