O Valor do Perdão


         Dom Henrique foi um homem rico, poderoso, que exercia grande influência na sociedade da época.

         Nascera em uma família rica, nunca precisou do trabalho para se sustentar.

         Abusava de seu dinheiro, gastando-o em jogos, bebidas e mulheres.

         Certa noite conheceu Antônio, bom moço, trabalhador. Antônio estava noivo de Izabel, de quem muito gostava, iam casar-se em breve.

         Dom Henrique logo se aproximou de Antônio e o convidou para uma de suas noitadas. Antônio recusou, mas Dom Henrique sabia como persuadir.

         Logo se tornaram companheiros inseparáveis. Todas as noites saiam para beber e jogar. A vida de Antônio, aos poucos, foi se deteriorando, perdia muito dinheiro nos jogos de azar, bebia cada vez mais e mais.

         Antônio chegou ao fundo do poço, perdeu o emprego, desfez o noivado e entregou-se ao vício. Dom Henrique ria-se da situação de Antônio, que ele próprio ajudara a construir.

         Ao perceber que o rapaz não tinha mais dinheiro para acompanhá-lo, Dom Henrique afastou-se, abandonando o amigo à própria sorte. Os anos se passaram. Antônio desencarnara em consequência do vicio, da solidão, da miséria. Desencarnara nutrindo grande ódio por Dom Henrique.

         Dom Henrique também desencarnou e após muitos anos habitando o umbral, local ao qual se ligou devido as suas vibrações nocivas e viciosas, chega ao arrependimento de seus atos e implora a Deus que o tire daquele lugar tenebroso. Diante de seus pedidos sinceros de arrependimento é visitado por luminoso Espírito que o informa que irá receber uma nova oportunidade, renascerá como filho de Antônio e Izabel; será pobre para aprender a dar o devido valor aos bens empregados por Deus, para fazer bom uso deles. O bondoso mensageiro ainda lhe diz que deverá ter paciência com Antônio, pois este ainda não se libertou do ódio e do desejo de vingança.

         Henrique nasce nessa família pobre e logo percebe, desde pequeno, que o pai, apesar de ter um bom coração, bebia muito e perdia o parco de dinheiro que ganhava, no jogo. Sua mãe tentava sustentar a casa e trabalhava muito, deixando Antônio e seus irmãos quase sempre sozinhos.

         Crescera assim, vendo o pai beber cada vez mais e, ao chegar em casa bêbado, às vezes lhe batia; nunca batia em seus irmãos. Henrique não conseguia entender o porquê dessa perseguição. Mas apesar de tudo, nutria um sentimento de amor e de piedade por seu pobre pai. Começou a trabalhar logo cedo para ajudar sua mãe; estudava muito para algum dia ter uma chance melhor.

         E assim foi crescendo; seus irmãos maiores foram embora cuidar de suas vidas; ele não seguiu o mesmo caminho, ficou ali, perto de seus pais.

         Formou-se com grande sacrifício e tudo fez par dar uma vida melhor para seu pai e sua mãe.

         Através do exemplo de bondade e perseverança do filho, Antônio, aos poucos, fez um tratamento espiritual e foi melhorando.

         Certa noite, ao chegar em casa após o trabalho, encontrou o pai chorando. Antônio abraçou o filho e lhe pediu perdão por não ter sido um bom pai, sabia que fizera a família sofrer, estava arrependido.

         Henrique também chorou e elevando o coração em prece, agradeceu a Deus a alegria de ver o pai sóbrio e carinhoso, dizendo-lhe:

         - Pai, não se lamente pelo passado. Só a Deus cabe o julgamento de nossos atos. Não conhecemos os desígnios da vida. Cabe a nós o trabalho honesto, a compreensão e o perdão àqueles que conosco convivem.

         Não pesemos mais no que passou, agora somos realmente amigos, vamos aproveitar esta paz que só o amor e o perdão podem nos proporcionar.

Maria de Cássia Anselmo