SEVERINO CELESTINO DA SILVA
O principal sentido da oração deve ser a de evidenciar a nossa humildade diante da grandeza de Deus.
Temos o costume de realizar nossas orações com a finalidade precípua de pedir sempre alguma coisa a Deus. É comum realizarmos as nossas orações solicitando a Deus algo pessoal e esquecendo das necessidades gerais dos que nos cercam.
Na questão 659 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores nos informam que a três coisas podemos nos propor por meio da prece: louvar, pedir e agradecer.
O Sidur, livro de orações judaicas, classifica a oração em quatro tipos e a oração de pedidos é apenas um desses quatro tipos existentes. As outras são as orações de agradecimento, louvor a Deus e as preces de introspecção e confissão. Na verdade o verbo hebraico rezar – lehitpalel- não significa “rogar” ou “suplicar” a Deus, como muitos imaginam. Ele provém de um radical hebraico “palel” que significa “julgar”; portanto “lehitpalel” (rezar) pode ser traduzido também como “julgar a si mesmo”.
Não devemos esquecer que Jesus era judeu e, na sua condição judaica, Ele nos ensina no “Sermão do Monte”, contido no Evangelho de Mateus, em seu capítulo 6, versículos 9 a 13, como deve ser realizada a nossa oração.
Inicialmente, nos orienta que quando realizarmos as nossas orações, elas não sejam como a oração dos hipócritas que oravam, segundo Jesus, nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Mas recomenda que entremos em nosso quarto, fechemos a porta e oremos a Deus em secreto, pois Ele, que tudo vê, em secreto nos recompensará. Recomenda ainda, que não é pela repetição das palavras ou pelo barulho que seremos escutados, pois que Deus conhece o que nos é necessário e o que merecemos.
Apresentaremos aqui o “Pai Nosso” traduzido diretamente do texto hebraico para que você possa comparar a diferença de conteúdo frente às traduções do texto grego e do latim.
O texto hebraico aqui utilizado foi extraído do Novo Testamento da “Society for Distributing the Holy Scriptures to the Jews”- London.
Apresentamos a seguir as explicações referentes ao texto traduzido por nós, comparando-as com o texto tradicional.
Pai nosso = Jesus ensina como, humildemente, devemos nos dirigir a Deus. Observe que Ele não diz “Meu Pai”, mas “Pai Nosso”. Pai Nosso significa Pai de todos. Estamos no mesmo nível de necessidades. Falamos como se estivéssemos pedindo para todos e não apenas para “Mim”. Jesus nos orienta neste sentido humilde de nos dirigirmos a Deus.
Pai nosso dos céus: e não, pai nosso que estás nos céus, como se tem dito até hoje. Deus está em toda parte, Ele é senhor de tudo, dos Céus e também da terra, e não de uma região geográfica restrita, circunscrita, limitada e determinada. Pode ser dito também “Pai Nosso que és dos Céus” mas nunca, que estás nos Céus.
Santo é teu nome ou Santo será Teu nome: e não, santificado seja o vosso nome. Deus já é santo independente de que desejemos ou não, que ELE SEJA. Na frase, o verbo hebraico – kidesh – Santificar, Consagrar, colocado no incompleto ou futuro, nos transporta para o sentido de que Deus será Santo, Será consagrado. No entanto, como para Deus não existe passado, presente ou futuro, ficamos com a tradução, Santo é Teu Nome. A Expressão – Itkadash shmchá – “Santo é o Teu Grande Nome”, está no Cadish, que é a oração recitada pelos Judeus enlutados e que consta do Sidur, o livro de orações judaicas.
Venha o teu reino: e não venha a nós o vosso reino. A preposição hebraica refere-se à segunda pessoa do singular (tu) malecutechá (teu reino). O Verbo Bá = Vir está colocado no texto hebraico, no incompleto ou futuro (tavô). No entanto, ele substitui o Bô que é a primeira pessoa do imperativo relativo (tsivui), que exprime o desejo da Tua vinda: VENHA! Portanto, Venha o teu reino, indistintamente para todos os seres do planeta. Aqui, ensina-nos Jesus que o Reino Divino vem indistintamente para os animais, plantas, aves, peixes, os seres vivos como um todo e não apenas para NÓS, os humanos. “Queira Ele estabelecer o Seu Reino e determinar o ressurgimento da Sua redenção e apressar o advento do Seu Ungido”. Esta é outra expressão incluída no Cadish, citado acima, e que parece ter sido aqui utilizada por Jesus para identificá-lo como o UNGIDO que em hebraico significa O MESSIAS, o HAMASHIÁCH - ( axyiHAmah).
Tua vontade se fará na terra como (quando) também nos céus: e não seja feita a vossa vontade assim na terra como nos céus. A vontade d`Ele é suprema e irreversível, independente do nosso consentimento, ela se fará. O que Deus determinou, desde a criação do mundo, continuará inalterável. Aqueles que, por ventura, se desviem da harmonia colocada por Ele no universo, colherão este desvio nas proporções que o provocaram.
Dá-nos hoje nossa parte de pão: e não o pão nosso de cada dia nos dai hoje. Utilizando-se o pão nosso de cada dia nos dai hoje, tem-se a impressão de que estamos pedindo o pão de todos os dias, para hoje. Só Deus sabe do que precisamos e também quando devemos e merecemos receber. Recordemos o que diz Cristo: “Não vos preocupeis com vossas vidas: que beber ou comer?”... Olhai as aves dos céus: elas não semeiam, não ceifam, nem armazenam em celeiros. Mas vosso pai dos Céus as alimenta”. (Mateus 6,25 e 26). O texto hebraico fala (lechém chuknu) parte de pão. Portanto, devemos pedir só uma parte do que merecemos, ou daquela que Deus decidiu nos dar, como gesto de humildade e até porque se recebermos só uma parte, sobrará alguma coisa para aqueles que não possuem, ainda, o sustento necessário.
Perdoa as nossas culpas quando perdoarmos as culpas dos nossos devedores: e não, perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Aqui está condicionado que o nosso perdão vem como conseqüência natural do perdão prévio que nós já realizamos. É a lei de causa e efeito. É a colheita natural da nossa semeadura. Este sentido é confirmado no versículo 14 deste capítulo 6. Deus não premia e não pune, cada um colhe o que plantou.
Temos ainda a certeza de que, ao atingirmos a perfeição, no reino da plenitude evolutiva, ninguém deve nada a ninguém. Todos estão em pleno estado de harmonia pela evolução atingida e nenhuma dívida a mais nos será cobrada.
“Apressa-te em te reconciliar com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que ele não te entregue ao juiz e o juiz te enviará para a prisão ou cárcere. E Eu verdadeiramente te digo: não subirás dali até que tenhas pago o último prutá”. (Mateus 5:25 e 26.)
Não nos deixes entregues à provação: Diferente de não nos deixeis cair em tentação como se tem traduzido até hoje. A expressão hebraica “lidei massá” significa para as mãos da provação. A palavra hebraica que está aplicada no texto é “massá”. E “massá” significa prova, provação e não tentação. É a mesma palavra que se encontra em Gênesis 22:1, onde Iahvéh põe à prova Abraão. Ele não tenta Abraão ao lhe propor o sacrifício do seu filho Isaac. Iahvéh põe à prova o povo de Israel, e não o tenta. Veja as provas que Ele coloca em seu caminho Ex. 15:25; 17:7; 20:20; Dt. 6:16; 13:4; 33:7; Jó cap. 1 e 2; Mt. 4:1-11 (provação do Cristo). Passar por provações não é fácil, por isso o Cristo nos ensina solicitar de Deus toda assistência possível, frente a elas, pedindo que Ele não nos abandone nas horas da provação, ou seja, não nos deixe entregue à nossa própria sorte.
Porque assim nos resgatas do mal: Se tivermos a assistência de Iahvéh pela nossa sintonia com Ele, durante as provações, com certeza resgataremos todo o mal. A expressão “hatsilenu min-hará’” significa nos resgatará do mal ou nos libertará do mal. Assim, fica entendido que se soubermos pedir a assistência de Iahvéh durante as provações e Ele estiver conosco através da nossa sintonia, haveremos de superar todo o mal.
Amén – Palavra hebraica que significa desejo de que se cumpra o nosso pedido. Que aconteça segundo o nosso pedido. Que assim seja.
Fonte: www.febnet.org.br