Juliana, ou Juli como todos a conhecem, é uma adolescente que adora computadores, jogos na Internet, e tem quase quinhentos amigos no Facebook.
Desconhecemos o autor
Juli, porém, tem sorrido menos ultimamente. É possível ver em seu rostinho que algo não está bem. Ela não contou pra ninguém, mas tem recebido telefonemas assustadores. Alguém liga dizendo onde ela está, o que está fazendo, e falando que gostaria de estar com ela naquele momento. Alguém que ela não conhece e que, pela voz, parece um adulto, mas ela não sabe quem é.
Deixou de atender o número da voz misteriosa e ele passou a encontrá-la nos jogos on-line e no Facebook. Nessas situações ele a provoca, convida-a pra sair, para conhecer a casa dele, para ficar sozinha com ele... E o pior de tudo: esse homem misterioso parece saber tudo dela: o que ela gosta, o que faz e com quem anda. Sabe inclusive onde ela mora e onde estuda. Sabe até o cursinho pré-vestibular que ela frequenta e o horário em que chega e sai.
Ela conversou com alguns amigos a respeito do que estava acontecendo, mas eles acharam que ela estava exagerando, que devia ser uma paquera sem maiores consequências.
Mas Juliana sabe que não é uma brincadeira. A conversa dele era de um adulto, com expressões e propostas que ela não estava acostumada. Quando esse homem misterioso avisou que iria encontrar-se com ela, quer ela quisesse ou não, Juliana teve medo e resolveu contar tudo a seus pais.
Eles foram, então, até a Delegacia registrar uma ocorrência policial. Chegando lá, o policial ouviu o relato, fez algumas perguntas e anotou todas as respostas. Ele então perguntou como era o comportamento da Juliana nas redes sociais.
- Normal, ela disse. Tenho muitos amigos, adoro o Facebook.
Na verdade, não passava um dia sem que ela postasse algo no Facebook: uma foto, um comentário, algo sobre uma festa que já ocorreu, o encontro com os amigos que estava acontecendo ou seus planos para o futuro: festas, encontros, jantares ou simplesmente seus planos de ficar em casa estudando ou fazendo nada no computador.
De posse dessas informações, o policial pediu que ela entrasse no Facebook e começou a mostrar a ela que tudo o que estava acontecendo provavelmente tinha origem no comportamento dela nas redes sociais.
- Veja! Sua vida toda está aqui! Tem foto dos seus amigos, da sua casa, dos móveis, até do carro que sua família usa.
Com mais alguns clicles ele mostrou que era possível saber toda a rotina dela: escola, cursinho, quem eram os melhores amigos e até prever o trajeto dela da escola até em casa.
Juliana não disse nada. Baixou a cabeça e pediu desculpas aos pais. Ela não tinha se dado conta que tinha publicado toda a rotina dela e da família, e exposto a si mesma, sua família e amigos a qualquer um que se apresentasse como amigo, ou amigo de um amigo, ou algo assim. Até então ela achava que a rede era apenas um local de amizade e curtição, e que era importante estar conectada e em contato com toda a galera.
A partir daquele dia, Juli mudou. Mudou de telefone, alterou algumas de suas rotinas e também modificou a privacidade do seu perfil no Facebook, passando a ser muito mais cuidadosa com aquilo que postava. Afinal, como o policial explicou: ninguém deve fazer um cartão com foto, endereço, rotina e telefone pessoal e distribuir para qualquer pessoa, na rua.
Com essas providências, o homem misterioso nunca mais entrou em contato e Juliana passou a lição adiante: alertou muitos de seus colegas e alguns deles entenderam e, como ela, passaram a ser mais cuidadosos e seletivos na Internet.