Jesus e fé


         No cair da tarde, foi que tudo aconteceu. A barca se encontrava em meio ao mar da Galiléia, trazendo no seu bojo a esperança daqueles homens habituados ao trato rude das redes, dos remos, da labuta incansável.

         Enquanto se detinham envolvidos na tarefa, um deles ergueu os olhos e deu o alarme: “Olhem!”

         Seu dedo apontava na direção da margem de onde, naquele crepúsculo quase noite um vulto de vestes brancas se aproximava. O vento fazia com que o que vestia se enrolasse em seu corpo, mostrando uma silhueta alta e magra recortada contra o céu de cores que morriam.

         O primeiro momento foi de susto e inquietação. O que seria? Ou quem seria? Eram as indagações que passavam pelas mentes dos pescadores assustados.

         Acostumados a tudo, enfrentaram com destemor, firmaram a vista no intuito de descobrir se seria uma miragem, um fantasma, uma assombração.

         Então, um dos apóstolos gritou: “É o Senhor!”

         Um misto de temor e emoção invadiu os corações. Pedro, de imediato, foi ao fundo da barca e tratou de cobrir a nudez com a túnica, demonstrando o respeito que tinha pelo seu Rabi.

         Tornou ao posto anterior e observando que o vulto prosseguia na direção da embarcação, andando sobre as águas, falou:

         - “Senhor, se és mesmo o nosso Rabi, ordena que eu vá ao Teu encontro”.

         O que poderia parecer um desafio ou uma desconfiança não chegou aos ouvidos de Jesus desta forma. Entendendo o arroubo do apóstolo devotado, que desejava partilhar daquele fenômeno inusitado, estendeu a mão e ordenou: “Vem.”

         Pedro saiu da barca e começou a andar na direção do Cristo. Os seus olhos se cravaram no imenso azul dos olhos de Jesus, que pareciam brilhar de forma estranha, naquela tarde-noite.

         Contudo, antes que seus dedos tocassem as mãos do divino Amigo, sentindo-lhe as forças que o sustentariam, os ventos se fizeram mais fortes e o apóstolo teve medo.

         Por um rápido instante, seu olhar buscou a água por sobre a qual caminhava e, dando-se conta que nenhum apoio físico o sustentava, encheu-se de pavor.

         “- Salva-me, Senhor.”

         E seu corpo mergulhou pesado no seio das águas, acudido de pronto pelas mãos de Jesus.

         - “Homem de pouca fé, por que duvidaste?”

         Homem de pouca fé somos muitos de nós. Jesus vem ao nosso encontro, no crepúsculo das nossas dores, demonstrando pela serenidade que tudo está bem. Logo mais, traduz a Sua paz, haverão de cessar as tormentas.

         Estendendo-se as mãos, dispomo-nos a ir ter com Ele. Mas, se a meio caminho, sopram os ventos da adversidade, vacilamos. Exatamente como Pedro, mergulhamos nas águas profundas da tristeza e da melancolia, de onde, nem sempre somos retirados de pronto.

         Falta-nos fé. Essa fé que é a certeza da Presença Divina e do apoio constante do Amor não amado.

* * *
         Jesus é esse norte que nos assiste. Mesmo que as tempestades rujam e balancem as estruturas ao nosso redor, Ele permanece firme, no leme das nossas vidas.

         Não permitiremos que a chama da fé apague na candeia das nossas almas. Ao contrário, ante a sua claridade, andemos com passos seguros, buscando o porto da esperança e a margem da paz.

Redação do Momento Espírita - www.momento.com.br