As consequências do Carnaval


Vitorino Moreira Neto

         A palavra Carnaval, dizem alguns estudiosos, vem do latim Carnevale, que quer dizer "adeus à carne", ou Carnelevamem, que tem o mesmo significado. Outras autoridades no assunto dizem o contrário: que a palavra Carnelevamem significa "o prazer da carne". Ainda outros afirmam que se originou das palavras Carrus Navalis, carro com enorme tonel, que distribuía vinho ao povo, na Roma antiga, durante as Dionisíacas.

         Passado o tempo, o Carnaval desenvolveu-se em duas formas: o entrudo, que teria sua origem nas festas romanas e seria sua forma popular; a outra forma seria mais erudita, originária em Veneza e que consistia nos bailes de salão.

         No Brasil, o entrudo foi o primeiro indício do Carnaval, trazido pelos portugueses já na época da colonização. Por volta de 1593, alguns depoimentos feitos ao inquisidor Heitor Furtado de Mendonça indicam que em 1553 já havia festas para se brincar o Entrudo.

         O Entrudo, do latim Introitus, que quer dizer introdução, era uma brincadeira selvagem, que consistia numa espécie de guerra, onde os participantes, previamente combinados, atiravam materiais variados uns nos outros, em um clima festil. Estes materiais variam, mas pode-se citar alguns dos mais comuns, como limões de cheiro, bacias contendo dejetos humanos e águas sujas. As danças e cantorias ficavam por conta dos negros, que desciam as ruas usando máscaras africanas, tocando marimbas, agitando chocalhos e batendo rudes tambores.

         Devido aos abusos, o Entrudo sofreu proibições oficiais desde o tempo colonial. Resistindo às proibições, o Entrudo trouxe as limas de cheiro, que foram substituídas pela bisnaga com água aromatizada, em 1875. Em 1877, surgem o confete e o jetone. Em 1895, as línguas-de-sogra. Em 1892, as serpentinas. Em 1906, o lança-perfume. Em 1927, o lança-perfume metálico, sendo proibido em 1962.

         Os primeiros sinais de que o Carnaval brasileiro seria substituído, passando do Entrudo para o de Veneza, começaram a surgir com os bailes de máscaras. Aos poucos, o Carnaval foi substituindo o Entrudo. Mas o Entrudo não perdeu seu espaço senão depois de muito tempo. Pelo que se tem notícia, o último Carnaval do Entrudo foi em 1979, na cidade de Recife, então com o nome de mela-mela. Embora oficialmente desaparecido, o Entrudo pode ser encontrado em alguns subúrbios, com sua conduta tipificada nas ações dos prazeres carnais (sexo descontrolado e irresponsável) ou materiais (bebidas e outros produtos de satisfação física).

         Processos obsessivos se agravam. Os recursos disponíveis para o socorro das vítimas, assistidas pelo mundo espiritual escasseiam. A atmosfera nas cidades torna-se densa, desagradável, oferecendo certa resistência às entidades socorristas.

         Manoel Philomeno de Miranda nos diz que as pessoas se confundem com os obsessores. As máscaras carnavalescas com rostos desfigurados, fazem parecer que seus criadores se inspiraram em companheiros invisíveis; quando não foram levados em sono para regiões onde encontram vasto campo de inspiração. Fica difícil dizer se o encarnado é quem retrata o desencarnado, ou se é retratado por ele.

         Como se vê, as intervenções do Mentor sempre irão nos convidar ao exercício do amor e da caridade. Se nestas festividades ainda vemos os vestígios da barbárie e do primitivismo dominando e que um dia desaparecerão, também é verdade que todos somos, de uma ou de outra forma, espíritos ainda devedores, subjugados aos ditames amorosos da Lei Divina, que transgredimos.

         Por detrás dos risos, alegrias e fantasias, esconde-se uma fonte de dores e sofrimentos, causada pelas conseqüências de atitudes impensadas.

Fonte: Órgão Informativo da "Fundação de Ensino Eurípedes Soares da Rocha" - fevereiro, 2000.




Carnaval? Fique longe dele


         O calendário brasileiro vê chegar mais um período carnavalesco e logo as manchetes nos meios de comunicação mudarão para apresentar o nu e a violência, comuns nesses dias. Tudo em nome de uma enganosa alegria.

         A dita festa popular, que ainda guarda vestígios de barbárie e do primitivismo reinantes, tem suas origens nas bacanálias, da Grécia, quando era homenageado o deus Dionísio. Anteriormente, os trácios entregavam-se aos prazeres coletivos, como quase todos os povos antigos. Mais tarde, apresentavam-se estas festas, em Roma, como saturnais. Depois, na Idade Média, aceitava-se com naturalidade: "Uma vez por ano é lícito enlouquecer", tomando corpo nos tempos modernos, em três ou mais dias de loucura, sob a denominação, antes, de tríduo momesco, em homenagem ao rei da alegria ...1

         Até com uma certa e irresponsável complacência das autoridades policiais, a delinqüência abraça o vício, e o carnaval transforma-se num índice elevado de vítimas. Homicídios tresvariados, suicídios alucinados, paradas cardíacas por excesso de movimentos e exaustão de forças, desencarnação por abuso de drogas, alcoólicos e outros do gênero, estupros, abortamentos, vinculações obsessivas, brigas, agressões, enfim, violência de múltipla ordem.

         Na visão espiritual, nuvem de vibrações psíquicas de baixo teor encobre os locais em que se realiza o frenesi da folia e espalha-se pela cidade, com densidade pastosa, escura, qual nevoeiro de difícil superação. Atmosfera psíquica esta engendrada pelas expressões infelizes e danosas tantos dos "vivos" quanto dos "mortos", que se somam aos primeiros, aos magotes, em perfeita sintonia.

         Lastimável manifestação do egoísmo e do cinismo (e mais o orgulho e a luxúria), desperdiçando nos salões, nas avenidas de pedra ou de areia, enorme quantidade de dinheiro, gastando-o nas fantasias (isso quando o folião se apresenta vestido), nas alegorias, nas bebidas alcoólicas, nas drogas, qual um deboche para com certos padecimentos humanos, retratados na enfermidade, na fome, no frio, no barraco miserável. Paradoxalmente, estes padecimentos muitas vezes estão presentes nas famílias de muitos carnavalescos, e ali permanecerão esperando pela volta do estulto.

         Enfim: carnaval? Nada que o aconselhe.

         Entretanto, àquele espírita para quem a Doutrina fora alento e vida, descerrando os painéis da Imortalidade e armando-o da sabedoria que propicia forças para a superação de si mesmo e vitória sobre as conjunturas difíceis, resta o recato pessoal e familiar, ficando longe da festa. E pode colaborar na minimização dos males decorrentes das loucuras dos foliões, mantendo-se em equilibrada e sadia vivência, também nesses dias, independentemente do local e com quem esteja, pois, assim agindo, proporcionará vibrações positivas, que funcionarão qual oportuna chuva que chega limpando a atmosfera de determinada região.

         Ainda, dias dos mais próprios e necessários para a manutenção de atividades nas Casas Espíritas, a fim de que atuem como fontes geradoras de psiquismo positivo, tanto quanto como pronto socorro para as vítimas espirituais, ou como oásis de reconforto e amparo aos que ali se fizerem presentes, buscando atendimento ou contribuindo com seu trabalho de benemerência. Aliás, recomendação que se encontra assim expressa no Capítulo 17 do livro constante em nota de rodapé: "Nestes dias, nos quais são maiores e mais freqüentes os infortúnios, os insucessos, os sofrimentos, é que se deve estar a posto no lar de caridade, a fim de poder-se ministrar socorro".

         E continua: "Certamente que o repouso é uma necessidade e se faz normal que muitos companheiros, por motivos óbvios, procurem o refazimento em férias e recreações... Sempre haverá, no entanto, aqueles que permanecem e podem prosseguir sustentando, pelo menos, algumas atividades da Casa Espírita, que deve permanecer oferecendo ajuda e esclarecimento, educando almas pela divulgação dos princípios e conceitos doutrinários com vivência da caridade."

         Valoriza, pois, o milagre das suas horas, agindo em benefício próprio e do semelhante, enriquecendo-se de amor e coragem para a realização dignificante.

         Carnaval? Fique longe dele!

1FRANCO, DIVALDO PEREIRA _ Nas Fronteiras da Loucura