Todos nós sabemos/percebemos que o meio em que vivemos influi em nossa maneira de agir. Quanto mais imperfeito o Espírito, tanto mais sofre influências do meio. Os grandes Espíritos resistem e conseguem não só superar as influências negativas, mas também deixar a marca das suas ações positivas. Exemplo maior disso nos deixou Jesus. O Mestre nunca se entregou à revolta, à avareza, à gula, à maledicência, à inveja e a tantos outros defeitos de caráter que existiam naquela época, e ainda existem entre os homens. Nem tampouco, o Mestre se deixou influenciar pelas pompas religiosas, pelos rituais, nem pelo poder político ou religioso. Agiu sempre com equilíbrio, em que mesclava ternura com firmeza, dando testemunho daquilo que ensinava: “amai os vossos inimigos”; “orai pelos que vos perseguem e caluniam”; “fazei o bem aos que vos odeiam”; “tratai os homens como quereríeis que eles vos tratem"; “seja o vosso falar: sim, sim; não, não”; “dai de graça o que de graça recebestes”.

         Jesus trouxe uma nova concepção em matéria de vida religiosa. A religião, conforme ensinou e exemplificou Jesus, não deve se circunscrever ao ambiente do templo, mas sim espraiar-se pela vida. O mundo todo, para não dizer o Universo, é o templo de Deus. Os conceitos religiosos devem influir na atuação do homem em todos os seus relacionamentos na vida em sociedade.

         O Espiritismo, trazendo-nos de volta os ensinamentos de Jesus, ensina que devemos levar para a vida em sociedade, seja no lar, no trabalho, na rua, no lazer, as verdades do Evangelho, que aprendemos nas Casas Espíritas. O Livro dos Espíritos, em sua terceira parte, intitulada “Das Leis Morais”, orienta como devemos agir, levando os conceitos cristãos a todos os ramos de atividade humana. Por isso, o Espiritismo chama-nos a atenção para buscarmos encarar a vida de maneira global e não compartimentada em setor religioso e setor profano. Aprendemos que a realidade é uma só: as verdades e os conceitos aprendidos no Centro Espírita e nos livros espíritas devem atuar no nosso relacionamento com o próximo, em todos os momentos e em todos os lugares.

         No lar, nessa sociedade menor, o espírita deve agir em consonância com os ensinamentos do Evangelho de Jesus, buscando cultivar bons pensamentos, boa conversação, abolir o uso do anedotário torpe, de palavras menos edificantes. Devemos, também, selecionar livros e filmes e adotar o Culto do Evangelho no Lar.

         Quando Jesus nos diz em seu Evangelho: “Que resplandeça a vossa luz diante dos homens” (Mt, 5: 16), o Mestre está nos conclamando ao esforço evolutivo de nos melhorarmos diante dos nossos irmãos, na vida em sociedade, pois todos sabemos que o bom relacionamento com o próximo não deve depender dos outros, mas sim do nosso esforço de tolerância e compreensão.

         O espírita deve sempre respeitar as leis e regulamentos, quer sejam leis emanadas do governo, quer sejam simples regulamentos da escola, do clube, do prédio onde mora, pois se cada um quiser viver conforme seus desejos, a vida em sociedade se torna uma anarquia. Quando Jesus nos ensinou: “Dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt, 22: 21), quis nos dizer que devemos obedecer às leis, como ele próprio as obedeceu. Com base nesse ensinamento, o Espírita deve respeitar as leis, mesmo aquelas que lhe pareçam injustas. Se achar que uma lei é injusta, deve trabalhar, com os meios ao seu alcance, no sentido de mudá-la, mas enquanto ela estiver em vigor, deve respeitar-lhe os preceitos.

         Também no esporte, quer como atleta, quer como espectador, o espírita deve se lembrar dos preceitos evangélicos e não “entrar na onda” e fazer algo simplesmente porque “todo o mundo está fazendo”. Nesse particular, lembramo-nos da recomendação do Apóstolo Paulo: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.” (1 Co, 6: 12). O Apóstolo quer dizer que, no uso da nossa liberdade, podemos fazer muitas coisas, mas que devemos sempre avaliar se aquilo que vamos fazer nos convém como cristãos, como Espíritos eternos, responsáveis pelo nosso destino.

         Os ensinos dos Espíritos, relativamente à valorização do tempo, devem valer também para a sala de aula. O estudante espírita deve ter consciência do valor da oportunidade que lhe é dada de freqüentar uma escola, enquanto milhares de outras criaturas sequer aprendem a ler. Consciente do valor da oportunidade recebida e, embora alegre e extrovertido, deve dar testemunho, buscando estudar com seriedade, separando as coisas: hora de estudar e hora de se divertir.

         Relativamente ao trabalho, a Doutrina Espírita nos ensina que o trabalho não é castigo, mas que é uma atividade natural para o Espírito, tanto encarnado, quanto desencarnado. Na sociedade em que vivemos, todos devemos ter uma ocupação útil, mesmo que não necessitemos ganhar dinheiro, pelo fato de já dispormos de uma aposentadoria ou de bens que nos permitam não depender de salário. Em termos de eternidade, não existe aposentadoria como muitos imaginam, nem a ociosidade até o fim da vida.

         A sabedoria e a misericórdia divinas nos fizeram renascer exatamente no meio social de que necessitamos para continuarmos o nosso aperfeiçoamento espiritual. Daí o Espiritismo ser contrário ao isolamento da criatura humana em comunidades religiosas, dessas que se apartam do mundo, refugiando-se em conventos, mosteiros.

         Entre pessoas que têm a mesma maneira de pensar e, sobretudo, a mesma religião, é relativamente fácil viver os preceitos cristãos. Mas a vida nos pede exatamente o testemunho na convivência com pessoas que pensam, sentem e agem de modo diferente de nós. Viver bem só entre os bons não nos acrescenta muito em progresso.

         O importante é o nosso esforço em conviver com pessoas que não têm a nossa formação religiosa, nem a nossa educação, e, entre elas, dar o testemunho daquilo em que cremos, esclarecendo com palavras e demonstrando com exemplos. Nessa convivência é que teremos a oportunidade de exercitar a compreensão, a benevolência, a tolerância, a paciência, o perdão... O exemplo maior nos vem de Jesus, que jamais buscou isolar-se do convívio com as criaturas humanas, nem tampouco recomendou semelhante maneira de agir aos seus discípulos.

         Pelo contrário, enviou-os ao mundo, dizendo-lhes: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.” (Mt, 10: 16).