Quando Kardec trata da ciência espírita, não o faz em termos de ciência material, esclarecendo que objeto de estudo e o método de ambos são diferentes.
Para diferenciar bem as duas escolas, logo na introdução de sua primeira obra espírita, no capítulo VII de O Livro dos Espíritos, ele expõe: “O Espiritismo não é da alçada da ciência”1. A natureza científica do Espiritismo não é a mesma das ciências da matéria, pois esta trata dos fenômenos físicos e mecânicos, não podendo se manifestar quando o objeto de estudo é a alma, o Espírito.
Para não deixar margens a dúvidas, continua o Codificador: “As ciências ordinárias assentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente; os fenômenos espíritas repousam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante não se acharem subordinadas aos nossos caprichos.(…) Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer analogias que não existem. A Ciência, propriamente dita, é, pois, como ciência, incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo(…)”1.
Muitos conceitos utilizados por Kardec como “fluidos”, “éter”, “vibração”, não correspondem exatamente aos da Física, mas são utilizados por ele de forma análoga, para tornar mais fácil a compreensão das idéias espíritas. O que deve nos interessar no texto d’O Livro dos Espíritos não é a “vestimenta” empregada, mas o “corpo de idéias” expressa por ele.
Fazer avançar o Espiritismo não é subjugá-lo a conceitos da ciência material, mas dar-lhe maior desenvolvimento espiritual em nossa compreensão. Trabalhar assim, espiritualmente, para que se possa apressar o momento previsto por Kardec em que “os sábios se renderão às evidências”. Serão eles os que terão que modificar os seus conceitos e rever hipóteses até então consideradas “inabaláveis”.
Para confirmar essa assertiva, grande parte dos cientistas que se propuseram a estudar, com seriedade, a Doutrina Espírita nas suas manifestações materiais, mesmo que inicialmente contrários à possibilidade da teoria Espírita, renderam-se as comprovações de suas próprias pesquisas. Como exemplo temos William Crookes, Gustav Geley, Charles Richert, César Lombroso, Crawford, Camille Flamarion e outros tantos.
Não é papel dos espíritas formular teorias científicas para a investigação dos fenômenos supranormais ou para a demonstração da realidade da sobrevivência da Alma. O Espiritismo em seus três aspectos, científico, filosófico e religioso, possui métodos próprios de observação e investigação e já provou há muito a realidade do Espírito e sua sobrevivência. Cabe aos cientistas materialistas, ou pelo menos aos céticos, a prova, através de suas teorias e métodos que o Espiritismo se encontra em erro.
A filosofia espírita, como alerta Kardec, está sempre pronta a renovar-se, naquilo em que for comprovada em desacerto. Espera-se, pois, para fazê-lo, uma prova de seu opositor, o materialismo. Como até hoje o avanço da ciência somente confirmou toda a teoria espírita, esta permanece pura e clara, como o Codificador a deixou, posteriormente acrescida e aprofundada através de informação da própria espiritualidade, por intermédio de médiuns de imaculada moral como Francisco Cândido Xavier, Yvone do Amaral Pereira, Peixotinho, Divaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira e outros.
1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio [de Janeiro] FEB. 2003, pg 28 e 29.