Numa pequena cidade do interior, um Centro Espírita, com mais de três décadas de serviços dedicados à Doutrina, estava enfrentando muitas dificuldades. Há um certo tempo suas atividades começaram a entrar em declínio. Havia apenas meia dúzia de trabalhadores abnegados que mantinham a Sociedade aberta.
Poucas pessoas compareciam nas palestras públicas; os grupos de estudos estavam quase desativados; faltavam trabalhadores para o passe; há muito que ninguém levava um livro emprestado da biblioteca, nem comprava uma obra na livraria. O desânimo era total. As acusações mútuas perturbavam ainda mais o ambiente de trabalho. Alguns diziam que o Grupo nem existia mais, só haviam esquecido de fechar a porta…
Certo dia veio à cidade um famoso conferencista, uma liderança respeitada e reconhecida no Movimento Espírita. O presidente, com um fio de esperança, buscou orientações com o visitante ilustre para tentar solucionar a situação. O palestrante ouviu com paciência e solidariedade, mas foi incapaz de sugerir algo que já não se houvesse tentado. Desanimado, o homem já ia se retirando quando o médium, intuitivamente, o chamou de volta:
– Meu amigo, o nosso mentor, Espírito amigo, nos disse algo que poderá lhe ser útil. Não é uma verdade incontestável, mas, segundo ele, há notícias de que um dos membros de sua Sociedade é um Espírito missionário, com uma grande tarefa a cumprir no campo da Doutrina Espírita.
Ante a surpresa e antes que pudesse perguntar qualquer coisa a mais, o conferencista se despediu, entrado na condução e partido para outra tarefa na próxima cidade.
Ao retornar para o Centro Espírita, o presidente convocou às pressas uma reunião com todos os trabalhadores interessados, que não eram muitos, para expor o recente diálogo. Reconhecendo a fonte segura da informação, a notícia provocou uma estimulante agitação: – Quem seria o missionário?
A dúvida percorria a mente de todos, mas como o trabalho não podia parar, logo retornam às suas atividades.
– Pode ser o presidente – pensaram alguns. É claro, ele é nosso líder há muitos anos e, nestes tempos difíceis, sempre nos manteve unidos. O missionário só pode ser um líder nato como ele!
– No entanto, – outros argumentaram consigo – e se for o diretor do Departamento Doutrinário? Ele é muito seguro no conhecimento Espírita, preservando a Doutrina das idéias estranhas! É bem provável.
– E o nosso tesoureiro?Vocês o esqueceram? Sempre soube lidar com as finanças – nunca tivemos nossa água ou luz cortada apesar de todas as dificuldades – e mantém o seu lado espiritual em equilíbrio. É um forte “candidato”.
– Também tem a Dona Marta, senhora sempre disposta, trabalhadora voluntária que cuida da limpeza, chega antes de todos nós e organiza todas as salas. É humilde e caridosa, qualidades indispensáveis para um missionário.
– Mas, por outro lado… talvez seja eu….
Sem saber quem era o missionário, os trabalhadores começaram a se olhar de modo diferente. Demonstravam mais respeito mútuo e admiração, procurando ficarem mais atentos às qualidades dos outros.
Logo, uma nova atmosfera de entusiasmo e consideração começou a substituir a antiga, de implicância e desprezo. As pessoas que retornavam àquela Casa ficavam cada vez mais maravilhadas com o lugar abençoado e de Luz. Sentiam-se muito bem, queriam ficar mais, estudar, engajar-se no trabalho edificante.
A Sociedade Espírita floresceu e, acima de tudo, tornou-se um lugar mais sagrado do que era antes.
Tudo graças a uma simples dúvida lançada e que não era enganosa: naquela Casa não havia apenas um missionário, mas vários. Cada indivíduo com suas potencialidades e responsabilidades que, quando realizadas com amor e respeito, executando cada um a sua missão, contribuem para um Bem Maior.
Luis Roberto Scholl
Inspirada em história do livro As Marcas da Alma, de Marc Gafni, Editora Sextante.