A maior parte das misérias humanas tem sua fonte no egoísmo dos homens. Quando cada um pensa em si antes de pensar nos outros, e quer a sua própria satisfação antes de tudo, procura, naturalmente, a qualquer preço, se proporcionar essa satisfação. Desse sentimento, desse desejo de querer tudo para si, resultam todas as lutas, os conflitos e as misérias.
Na infância do espírito, quando este ainda encarna em mundos primitivos, cujo objetivo principal naquele instante é a conservação da espécie, o egoísmo, dentro dos seus justos limites é necessário. No dizer de Kardec: “Deus não criou o homem egoísta e orgulhoso; criou-o simples e ignorante, foi o homem que se fez egoísta e orgulhoso, exagerando o instinto que Deus lhe deu para sua conservação”.
Os Espíritos Superiores, na pergunta 917 de O livro dos Espíritos, apontam duas causas principais para o egoísmo ainda estar muito presente nos relacionamentos e nas ações.
A primeira é o próprio meio. O homem, que habita esse planeta, ainda muito próximo de sua origem, da sua infância espiritual, tem dificuldades para libertar-se do egoísmo, porque as Leis, as organizações sociais e a educação estão repletas de egoísmo. O choque que o homem experimenta do egoísmo dos outros é o que muitas vezes o faz egoísta, por sentir a necessidade de colocar-se na defensiva. Notando que os outros pensam em si próprios e não nele, é levado a ocupar-se consigo, mais do que com os outros. Mas, à medida que nas relações de homem para homem e de povo para povo forem observados os princípios da caridade e da fraternidade, e cada um pensar menos em si e mais nos outros, teremos o inverso da situação. O homem, vendo que alguém pensa nele, também passará a pensar nos outros.
A segunda e principal causa do egoísmo está no desconhecimento das leis que regem a vida. Na medida que o homem não sabe de onde vem, nem para onde vai, ele concentra toda a sua atenção sobre a vida terrestre. Quer todas as satisfações, todos os gozos. E para atingir seu intento de extrair dessa vida o máximo, pois, conforme crê, a única coisa de concreto é a vida que está vivendo, ele acaba escravizando, oprimindo, dominando. No entanto, para quem sabe da transitoriedade dessa vida, distinguindo a vida espiritual, infinita, da vida corpórea, temporária, não encontrará motivos para sentir-se egoísta. Tornando a vida futura o seu objetivo, pouco lhe importa se nessa vida terá menos ou mais.
É fundamental que se compreenda que as almas saem iguais das mãos do Criador, tendo o mesmo ponto de partida e um mesmo objetivo, ao alcance de todos, em mais ou menos tempo, segundo seus esforços. Hoje cada ser é o que é, depois de ter por muito tempo e penosamente, passado pelos outros graus inferiores. As diferenças existentes entre os menos e os mais adiantados é apenas uma questão de tempo. Aquele que renasce como um simples operário, numa outra existência poderá nascer sobre um trono e mais poderoso. Assim como o contrário também pode acontecer. Todas as vivências, nas mais variadas condições e situações, são para que se exercite as virtudes, supere-se o egoísmo e chegue-se à meta final, que é a perfeição, representada pelo amor supremo.
“O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros
crentes devem apontar suas armas, dirigir suas forças, sua
coragem. Coragem, porque dela muito mais necessita cada um
para vencer-se a si mesmo do que para vencer aos outros”.
(EMMANUEL – Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 11)