Inicialmente, é preciso entender que a figura usada por Jesus pode parecer estranha, pois não se percebe a relação entre um camelo e uma agulha. Em hebreu, a mesma palavra era empregada para designar ¨cabo¨ e ¨camelo¨. Na tradução, foi-lhe dado o último significado; é provável que no pensamento de Jesus estivesse o primeiro, seria, pelo menos, mais natural. A referência de Jesus não era ao animal camelo, mas à corda de amarrar navios que era feita com o pêlo do animal e, popularmente era chamada “camelo”.
Se lermos essa frase de Jesus e não a interpretarmos, parecerá que Deus colocou nas mãos de alguns homens, um instrumento de inevitável perdição, um obstáculo absoluto à ¨salvação¨. Seria um pensamento contrário à razão e à bondade de Deus, pois, aquele que possuísse a riqueza estaria fadado a não entrar ¨no Reino dos Céus¨.
As conseqüências disso seriam a abolição da riqueza, por ser prejudicial à felicidade futura; a condenação do trabalho, que a pode conquistar. Reconduziria o homem ao estado selvagem, primitivo, contrário à lei do progresso.
Se a riqueza é fonte de muitos males, se provoca tantas paixões, crimes, não é a ela que devemos culpar, e sim ao mal uso que o homem dela faz. O que deveria ser útil, servir de progresso para a humanidade, mal utilizado serve de opressão, escravidão, subserviência, poder. A riqueza é colocada como prova na mão de alguns, para que dela o homem faça surgir o bem e o desenvolvimento.
A dificuldade a que Jesus se refere, é que a riqueza é, sem dúvida, uma prova bastante arriscada, mais perigosa que a miséria, em virtude das excitações, das tentações que oferece e da fascinação que exerce. O orgulho e o egoísmo podem ser extremamente excitados no gozo da vida puramente sensual e material. Outro fator a considerar é a maneira com que a riqueza foi adquirida: de forma lícita ou ilícita.
Embora a riqueza dificulte o caminho, não significa que ela o torne impossível e não possa servir como meio de evolução espiritual para quem dela faça bom uso.
A prova da riqueza material é colocada nas mãos certas e a cada reencarnação ela poderá estar em poder de outro. Depende do próprio homem, na sua conduta, aproveitar ou não as facilidades materiais que tem na presente encarnação, em benefício do próximo, oferecendo trabalho, provocando a diminuição da fome, da miséria, da ignorância, enfim promovendo o bem-estar da humanidade e o seu progresso, atingindo então, o seu próprio crescimento moral e espiritual.
“Verdadeiramente o homem só possui como seu, aquilo que pode levar deste mundo”. Pascal
Baseado em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Cap.XVI)