Muitos espíritas imaginam que será tranqüilo o seu retorno ao Mundo Espiritual, tendo em vista que conhecem a realidade do “outro lado”, pois o Espiritismo esclarece, em inúmeras obras, como se processa a desencarnação e como é o Mundo dos Espíritos. Esse conhecimento, porém, não altera o desencarne pois ele não depende do que crê ou sabe o Espírito e sim de seus pensamentos e ações no bem, como elucida Manoel Philomeno de Miranda1:
“Não são poucas as pessoas que (…) acreditam que o fato de alguém esposar as lições que defluem das páginas luminosas da Codificação e das Obras que lhe são subsidiárias, de imediato o tornam um ser renovado e imbatível. Isso deveria ocorrer, sem dúvida, no entanto, em razão das heranças ancestrais negativas e das múltiplas vinculações com o vício, cujos resíduos permanecem por longo período impregnando o perispírito, nem sempre o candidato à edificação de si mesmo consegue o objetivo a que se propõe. Para que isso aconteça, torna-se imprescindível todo o empenho e sacrifício pessoal, renunciando às fortes tendências perturbadoras, a fim de realizar a transformação moral imprescindível à felicidade.
(…) Sucede, no entanto, que o conhecimento apenas não basta para oferecer resistência a pessoa alguma ante as inclinações para o mal e a desordem interior. Após consegui-lo, faz-se imprescindível vivenciá-lo, passo a passo, momento a momento, mantendo a vigilância e coerência na conduta, a fim de não se comprometer negativamente, desviando-se do caminho da retidão.”
Esclarece, ainda o autor espiritual2:
“O processo de evolução é lento, porque aqueles que nele estamos envolvidos, optamos pelo imediato, que são as ilusões que afastam aparentemente as responsabilidades e as lutas, intoxicando-nos os centros do discernimento e entorpecendo-nos a razão. Luz, porém, em toda parte, o amor de Nosso Pai convidando à renovação e ao trabalho, à conquista de si mesmo como passo inicial para a aquisição da alegria, da paz e da felicidade de viver.”
A Doutrina Espírita, se bem compreendida e vivenciada em seus princípios de amor e caridade, é roteiro certo para a evolução espiritual. Assim, o espírita que estuda e compreende o Mundo Espiritual e que está ciente de que prestará contas inclusive “do bem que deixou de realizar”, tem o compromisso do autoconhecimento e da auto-superação de suas mazelas morais, e sabe que responderá perante sua própria consciência acerca do que fez em sua última reencarnação, mais cedo ou mais tarde. Vale lembrar que cada um é responsável por sua reforma íntima e é sempre boa idéia evitar surpresas desagradáveis no momento e após o desencarne.
1 – 2 FRANCO, Divaldo. Tormentos da Obsessão. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. 3. ed. Salvador, BA: Livraria Espírita Alvorada. 2001. p. 131- 132 e 128.