Facilmente percebemos que as pessoas ao passarem pelas mesmas dificuldades agem de maneira diferente. Uns sofrem mais, outros menos.
Conforme o modo que encaramos a vida terrena, podemos suavizar ou aumentar o amargor das provações. À medida que compreendemos os propósitos da vida, adotamos uma postura diferente em relação às dificuldades.
Em vez de nos queixar, agradecemos a Deus os desafios que nos fazem avançar, pois entendemos que as provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação.
Mas o que é ser resignado? Não devemos confundir resignação com acomodação. Quando fizemos tudo o que for possível para modificar uma situação e não conseguimos, então só nos resta esperar, confiando em Deus, até sermos merecedores. Isto é resignação. É estabelecer uma relação de paz com a própria história, com a própria realidade. É não lutar contra as condições que, embora pareçam desfavoráveis, fazem parte de um conjunto de recursos criteriosamente ajustados às necessidades espirituais de cada um.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo1 encontramos a sábia recomendação de um Espírito Amigo: “não vos aflijais, pois, quando sofrerdes”. O que significa que a aflição e a revolta adicionam sofrimento ao sofrimento, piorando a situação.
Lacordaire1 nos alerta que quando o Cristo disse: “Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence”, não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, referia-se apenas àqueles que sabem sofrer. E saber sofrer é, antes de tudo, compreender as provações.
Emmanuel2, também nos ensina que: “Não basta sofrer simplesmente para ascender à glória espiritual. Indispensável é saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração sequioso de paz.”
A crucificação de Jesus foi um acontecimento que marcou para sempre a humanidade terrena. No monte denominado Calvário Jesus foi crucificado juntamente com dois ladrões. Cada um dos personagens vivenciou a experiência de uma forma diferente. O mau ladrão, revoltado contra a punição que estava recebendo, praguejava e insultava a Jesus. Dimas, o bom ladrão, arrependido dos seus erros, recebia com humildade sua condenação. Apelava a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.Vinícius3 compara essas três cruzes com as dores do mundo.
A do centro é a dor de amar sem ser amado, nem compreendido. Daquele que cujo crime consistiu em ensinar a doutrina de amor e bondade. A cruz de Dimas alegoriza a dor do arrependimento, a dor que regenera, que converte e salva. A dor daqueles que cientes das suas imperfeições, enfrentam os sofrimentos e as angústias da existência com resignação e humildade, sem revolta. Aceitando a justiça divina, tiram preciosos ensinamentos das suas provações. No madeiro onde praguejava o mau ladrão, ostenta-se a dor da revolta, a dor enfurecida do orgulho vencido, que atribui suas vicissitudes a causas entranhas que lhe não dizem respeito.
Vinícius também compara a dor com o fogo. Seus efeitos podem ser benéficos ou destrutivos. O fogo, na lareira, aquece os lares, dá conforto e bem-estar à família; na arte culinária, torna os alimentos em condições de serem ingeridos e assimilados.
Mas, o fogo entregue a si mesmo, sem objetivo definido, sem aplicação inteligente, é o incêndio que devasta, destrói e consome. Assim a dor: é benéfica, segundo a maneira por que a recebemos e o modo pelo qual a suportamos.
Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Edição especial. Rio de Janeiro: FEB, 2004. Cap. IX – item 7 e Cap. V, item 18.
2XAVIER, Francisco. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 14.ed. Rio [de Janeiro]: FEB,1996.
3VINÍCIUS. Em torno do Mestre. 6. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1991. p. 315-316.