Na década de 80 era moda entre as adolescentes uma coleção de figurinhas, adesivos e cadernos que tinha como motivo o tema: “Amar é…”. As frases procuravam alcançar o idealismo romântico-juvenil da época:
“Amar é… querer estar sempre ao lado dele”.
“Amar é… dar-lhe flores”.
“Amar é… sentir saudades”.
A respeito do amor há diferentes definições segundo a cultura, costumes, condição moral, sócio-econômica e educacional das pessoas e sociedades.
Os gregos utilizavam vários termos para o que hoje chamamos simplesmente de amor. STORGÉ, segundo essa cultura, é o amor afeição, este sentimento expressado a nível familiar. PHILOS é a fraternidade, o amor recíproco, condicional. EROS, o amor romântico, a atração sexual, de natureza física e, portanto, transitória. Modernamente, este tomou uma importância extremada através da literatura, da música e, especialmente, a partir da explosão cinematográfica nas décadas iniciais do século XX, tornando-o um objetivo de vida a ser alcançado. Quem não o conquistasse não teria possibilidade de ser feliz, sendo então, objeto de abusiva exploração pelo comércio, pela mídia, como bem retratam as figurinhas já citadas.
Todas essas expressões de amor se apresentam na forma de emoções, anseios de almas imperfeitas, que buscam a sua completude experienciando no regozijo pessoal, na reciprocidade, na afeição correspondida ou na satisfação sexual a felicidade que ainda não encontraram.
Quando Jesus veio falar de amor, vivenciou um sentimento muito maior, que é o amor universal, ilimitado, oÁGAPE. Traduz-se no amor incondicional, baseado no comportamento e atitudes em relação aos outros. Sem exigências, direcionado para toda a humanidade, não poderia ser exclusivista nem egocêntrico, sendo mostrado pelo Mestre como caminho para a verdadeira felicidade.
Paulo de Tarso, na 1ª Epístola aos Coríntios (13:1 a 7,13), expõe esse amor-sentimento-comportamento comocaridade: “(…) se eu não tiver caridade, nada serei”. Segundo o apóstolo dos gentios, a caridade é paciente, doce e benevolente, humilde, responsável, indulgente, respeitosa, desinteressada, honesta, generosa, justa e perdoa sempre. O amor Ágape, ensinado por Jesus, exprime-se através da caridade, como tão bem compreendeu o missionário Paulo, que a coloca acima das virtudes da fé e da esperança, porque ela está ao alcance de todos, independente da sabedoria, da riqueza ou da crença.
Quando a Doutrina Espírita trouxe a máxima “Fora da caridade não há salvação” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap 15), foi porque Jesus, exemplificando na parábola do bom samaritano, coloca-a como condição única para a felicidade. Se houvesse outras, certamente ele as teria mencionado.
Apesar de serem particularizados e restritivos, o amor romântico, o maternal, o fraternal, a afeição, são formas de aprendizado que o Espírito utiliza para atingir a plenitude do amor, chegando ao sentimento maior do “amar a todos como a si mesmo” (incluindo aí até os que nos perseguem e caluniam).
Essa é uma conquista que se dá passo a passo, sem atropelos, mas com firmes propósitos de superação de si mesmo, de abandono da egolatria e, muitas vezes, abdicação do próprio bem-estar.
Quando nos sentirmos dulcificados, pacificados, esperançosos, confiantes; quando a caridade, que é o amor em ação, estiver arraigada em nosso ser, a atitude de sacrifício, de abnegação, sem martírios inúteis, será praticada naturalmente. Então estaremos mais próximos do amor vivenciado pelo Mestre e da “salvação” prometida por ele.
Luis Roberto Scholl