Jesus, quando se preparava para partir deste plano, percebendo o natural abatimento dos seus seguidores, como sabia que o ser humano ainda não estava preparado para entender todas suas lições e que muitos dos seus ensinos seriam mal interpretados, comprometeu-se a enviar outro Consolador que permaneceria entre nós. “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e Eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco (…) vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito” (Jo 14, 15-26)
Quando, na metade do século XIX, as manifestações espíritas ecoavam em todas as partes do planeta, trazendo notícias de que a vida continua, que a morte não elimina a vida, Jesus, cumprindo sua promessa, estava na direção da equipe de Espíritos superiores encarregados de divulgar uma nova Doutrina Filosófica, Científica e Religiosa, capaz de servir de instrumento para a transformação moral da humanidade. Doutrina que veio para restabelecer, na sua pureza originária, a essência dos ensinos de Jesus. Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica.1
Escrita por ordem e mediante ditado dos Espíritos superiores, contou com o esforço e o trabalho de Allan Kardec, que recebeu a missão de organizá-la. “Da comparação e da fusão de todas as respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da meditação, foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos, entregue à publicação em 18 de abril de 1857.”2
Estruturada a partir da crença em Deus, criador de todas as coisas, adotando Jesus como o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade Terrena, a Doutrina Espírita é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.3
Na sua análise, o Espiritismo aprofunda o estudo sobre a existência de Deus; a pluralidade dos mundos habitados; a origem e destinação do Espírito; o homem integral, dotado de Espírito, perispírito e corpo físico; a vida na dimensão espiritual; a reencarnação (pluralidade das existências); a relação dos homens com os Espíritos; as Leis Divinas ou Naturais (Morais); a vida futura; a Lei de Evolução: pela educação moral, reforma íntima e pela prática do bem, apresentando como máxima fora da caridade não há salvação.
Fundamentada nos ensinamentos morais do Cristo, a Doutrina Espírita assume o papel de Consolador. Com ela compreendemos, à luz da razão, o porquê do sofrimento, das diferenças e desigualdades existentes entre os seres humanos; através dela sabemos porque vivemos e para onde caminhamos.
O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. (…) Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras. (…) O Espiritismo lhe dá fé inabalável no futuro e a dúvida pungente não mais se lhe apossa da alma.4
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.5
Por isso Paulo, o Apóstolo, recomenda: Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos.6
1, 4 a 6 KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio [de Janeiro]:FEB, 1996. cap. I. item 7. cap.VI e XV.
2 ______ Obras Póstumas. 37. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2005. 2ª parte. p. 271.
3 ______O que é o Espiritismo. 55. ed. Rio de Janeiro:FEB, 2007. p. 55.