Nas leis divinas a união entre os sexos é natural e necessária para permitir a renovação dos seres que morrem e para a continuidade da vida material. O homem inspirado pelo Mais Alto, ao civilizar-se procurou regular essa união através de leis civis e religiosas, com o objetivo de organizar as relações de sociedade e de estabelecer as manutenções das famílias, sempre de acordo com as necessidades. Vemos, desta forma, que dificilmente encontramos entre sociedades diferentes duas formas iguais no entendimento desta lei e, mesmo dentro da mesma sociedade, as leis mudam conforme a época.
Mas, ao lado da união dos sexos, constituindo a parte material da lei divina, comum a todos os seres vivos, existe outra lei divina e imutável, no âmbito exclusivamente moral: a lei de amor. Nos propósitos de Deus está estabelecido que o ser humano se una, não só pelos laços da carne, mas também, especialmente, pelos laços afetivos da alma, ou seja, pelo amor.
Infelizmente ainda hoje, uma grande parte dos casamentos deixa de levar em conta a magistral lei do amor e os interesses que predominam ainda são a satisfação do orgulho, da vaidade, da ambição, do sensualismo, em outras palavras, interesses puramente materiais. Nessas situações, enquanto o motivo da união estiver inalterado, o casamento se mantém; quando algo falta, o casamento acaba também. Nem a lei civil, nem as convenções religiosas e os compromissos assumidos poderão suprir a lei de amor. Se esta não preside a união e acontece a separação, apenas se separa aquilo que foi unido pela ‘força’ (da sensualidade, do status, da fama, da cobiça…). Portanto, não são fórmulas banais, palavras juramentadas ou escritas que tornam o casamento uma união divina. Apesar disso, as leis civis não são supérfluas, pois sancionam a melhor ordem na sociedade e devem ser respeitadas, mas o que realmente importa são as bases desta união.
Quando o casamento é baseado no amor, na responsabilidade e no respeito, mesmo quando no âmbito material haja carência, a união se fortalece. É a verdadeira união de almas, aquela que nenhum homem separa, porque é unida por Deus.
O casamento nos propósitos divinos tem o objetivo de transformar duas criaturas jovens, apaixonadas, em dois companheiros que amadureçam juntos, que aprendam a se respeitar, e que se auxiliem. Também visa educarem juntos as almas que receberam como filhos, auxiliando-os a evoluirem. Não importa que o casamento seja de expiação, de resgate ou de almas afins, todos tem como objetivo principal o aprendizado da tolerância, paciência e amor.
Não são muitos os que conseguem cumprir com os nobres objetivos reencarnatórios nas uniões terrenas, mas é fundamental perceber a excelente oportunidade que Deus proporciona aos seus filhos, endividados frente às leis divinas, de resgatarem suas faltas nesta forma de união. Para isso é preciso:
– viver a união conjugal da melhor forma possível;
– direcionar a vida em comum para uma conduta ética e de respeito;
– educar-se e educar os filhos para serem homens de bem.
A vida é curta demais para ser pequena, afirma o pensador. E é exatamente isso: nossa transitória passagem neste pequeno planeta chamado Terra é um tempo muito precioso para perdermos com coisas pequenas e de menor importância. Certamente teremos novas experiências em outras existências, mas esta é fundamental e cada aprendizado é extremamente importante. Devemos viver a vida com alegria, sabedoria e responsabilidade, pois o que realmente vale, o que verdadeiramente levamos conosco para a eternidade é o sentimento do amor, da amizade, os corações que pudemos consolar e tudo aquilo que fizermos de bom ao nosso próximo.
Saibamos dignificar o casamento transformando-o e, consequentemente a família em uma estrutura sólida para a formação de uma sociedade mais comprometida com a ética e a justiça.
Luis Roberto Scholl
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 112 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996. cap. XXII, item 2 a 5.