Uma amiga me escreve e junto à carta envia uma reflexão muito interessante:
“Um amigo meu abriu a gaveta da cômoda de sua esposa e pegou um pequeno pacote, embrulhado com papel de seda e disse:
– Isto não é um simples pacote.
Pegou o papel que o envolvia e observou a bonita seda e a caixa.
– Ela comprou na primeira vez que fomos a New York. Já tem nove anos e nunca o usou. Estava guardando-o para uma ocasião especial. Creio que esta é a ocasião.
O amigo então aproximou-se da cama e colocou o objeto junto às roupas que ia levar para a funerária. Sua esposa tinha acabado de morrer.”
Essa história é, para muitos, lugar-comum; para outros, é desespero e, ainda, para poucos é reflexão. Todos somos levados a guardar “nossas coisas” para uma ocasião especial, quando deveríamos perceber que a cada dia vivido já é uma ocasião especial.
O personagem central da história questiona todos os momentos passados como um tempo que se perde e jamais se recupera; como o lazer, boas leituras, passeios com a família, excesso de trabalho, ajuda ao próximo, etc, além de salientar o consumismo que nos fascina no dia-a-dia.
“Por que guardar copos de cristal? Roupa nova, se tiver vontade, posso usá-la para ir ao supermercado. E o meu melhor perfume? Deixá-lo para ocasiões especiais ou usá-lo quando tenho vontade? As frases “algum dia”, “qualquer dia” já desapareceram do meu vocabulário. Hoje percebo o quanto vale a pena viver, escutar, fazer agora, pois amanhã talvez não tenhamos tempo para desfrutar do convívio da família, visitarmos um amigo doente, escrevermos cartas, pedirmos desculpas, darmos um alô a amigos e, principalmente, para dizermos aos nossos pais, filhos, aos nossos amados, com maior freqüência que os amamos, que os queremos bem e que não é necessária uma data especial para poder abraçar, presentear, acarinhar…”
Todas as indagações e expectativas nos dão uma certeza: Não deixemos para amanhã a espera da ocasião especial. Cada dia, cada hora, cada momento é especial. Aprendamos que o “qualquer dia” pode estar muito distante ou pode nunca chegar.
Maria Loni Madrid
Santo Ângelo – RS