Apelo da migalha

Eu sou a migalha!

Neste mundo de paradoxos e desperdícios eu vivo desprezada.

Desdenham-me e abandonam-me, sem cogitarem do quanto me poderiam utilizar, a benefício dos que nada têm.

O excesso das mesa fartas, se fosse recolhido, atenderia a uma larga faixa da escassez.

Há, no mundo, vidas humanas que se alimentam de tão insignificante quota de pão, que um outro animal de pequeno porte morreria de inanição.

Com as migalhas atiradas ao lixo poderia ser modificada a tormentosa paisagem de inumeráveis criaturas.

Moedas de pequeno valor, tecidos de dimensão reduzida, calçados não utilizáveis, agasalhos que não se usam, representando as migalhas da abundância indiferente, seriam suficientes para socorrer milhões de homens necessitados…

O celeiro abarrotado é conseqüência dos grãos reunidos.

O oceano imensurável resulta da gota d’água insignificante.

O jardim formoso, exuberante, surge do pólen invisível.

A galáxia inabordável se origina da molécula infinitesimal.

Todas as coisas imponentes têm sua gênese na aglutinação das insignificantes.

Não espero resolver os problemas do mundo.

Anelo, apenas, por atender ao homem.

Não creio ser possível, de um momento, modificar a vida terrena.

Desejo, somente, contribuir de alguma forma, para que, um dia, a existência planetária seja diferente, portanto mais feliz.

Enquanto muitos adiam o momento de ajudar, porque não podem produzir em demasia ou não conseguem transformar a realidade atual de dor, tornando-a amena e ditosa, candidato-me a iniciar, agora, o ministério da solidariedade, oferecendo-me para servir.

Não te detenhas em justificativas passadistas, escusando-te o amor ao próximo, o serviço do bem.

Vem comigo; dá-me tua quota, a tua migalha desconsiderada.

Unindo-nos, lograremos a felicidade para todos, porque “fora da caridade não há salvação”.

Eu sou a migalha!

Ajuda-me a tornar-me utilidade, realização.

Scheilla
Psicografia de Divaldo Pereira Franco