Charles Darwin, naturalista e biólogo inglês, em 1859, apresentou ao mundo a tese sobre a evolução dos seres vivos, com o seu trabalho denominado A Origem das Espécies. Dois anos antes, em 1857, Allan Kardec também provocou uma revolução no campo das ideias, com o lançamento de O Livro dos Espíritos.
Kardec, ao desbravar o Mundo dos Espíritos, antecipou a ideia da evolução dos seres, mas numa visão bem mais ampliada e abrangente, não se restringindo apenas ao aspecto físico. Darwin foi o missionário encarregado de trazer o conhecimento sobre a evolução orgânica. Kardec, sobre a evolução espiritual.
Os animais têm alma? Os Espíritos Superiores1 responderam que há nos animais um princípio independente da matéria e que sobrevive ao corpo (Questão 597). A inteligência do homem e a dos animais emanam de um mesmo princípio; mas no homem ela passou por uma elaboração que a eleva sobre a dos brutos (Questão 606).
Mais tarde em A Gênese2, Kardec vai observar que a verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no invólucro corporal, do mesmo modo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo.
Joanna de Angelis, analisando a evolução do princípio inteligente, propõe: Dormindo no mineral, lentamente exteriorizam-se-lhe as energias de aglutinação molecular, ampliando as possibilidades no despertar do vegetal, quando cresce em recursos de sensibilidade, a fim de liberar os instintos no trânsito animal, desabrochando as faculdades da inteligência, da razão, da consciência na fase humana, e avançando para a conquista da intuição que se dá no período angélico3.
Todos os Espíritos que agora animam corpos humanos, num passado distante, animaram animais, onde adquiriram atributos que hoje se apresentam nos seres humanos. Os animais também evoluem, mas sua evolução é mais lenta, produzida por influências exteriores, enquanto a humana é determinada de dentro, pela consciência do Espírito já esclarecido do homem. (…) tudo tem por alvo o Progresso, a Evolução para a Perfeição. (…) não há ente animado, por mais insignificante que pareça, por mais microscópico que seja, que não esteja submetido à Lei da Evolução4.
Tudo indica que, após transpor a última escala do reino animal aqui na Terra, o princípio inteligente que animou estes seres irá continuar a sua evolução em outras esferas, ou mundos, completando desse modo a sua preparação. Estando apto a entrar no reino humano, o corpo espiritual, do até então princípio inteligente, é submetido a modificações morfológicas pelos Engenheiros genéticos do espaço para que possa ocupar corpos humanos. Cabe destacar que, a partir da primeira encarnação no reino humano, o Espírito jamais ocupará corpos de animais.
Quanto às primeiras encarnações no reino humano, a Doutrina Espírita (Questão 613) observa que o ponto de partida do Espírito é uma dessas questões que se ligam ao princípio das coisas e estão nos segredos de Deus, sob o qual só podemos construir sistemas.
André Luiz5 observa que, atingindo os alicerces da Humanidade, o corpo espiritual do homem infraprimitivo demora-se longo tempo em regiões espaciais próprias, sob a assistência dos Instrutores do Espírito, recebendo intervenções sutis nos petrechos da fonação para que a palavra articulada pudesse assinalar novo ciclo de progresso.
O que se sabe é que não há trânsito direto dos animais que conhecemos aqui na Terra para o homem primitivo. A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período de humanidade começa, em geral, nos mundos ainda mais inferiores. (Questão 607 B)
Allan Kardec,6 analisando a questão, vai dizer que é provável que corpos de macacos tenham servido de vestidura aos primeiros Espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados, que viessem encarnar na Terra, sendo essa vestidura mais apropriada às suas necessidades e mais adequadas ao exercício de suas faculdades, do que o corpo de qualquer outro animal.
Alerta o Codificador que se trata apenas de uma hipótese apresentada apenas para mostrar que a origem do corpo em nada prejudica o Espírito, que é o ser principal, e que a semelhança do corpo do homem com o do macaco não implica paridade entre o seu Espírito e o do macaco.
Muito embora, conclui Kardec, ser possível que os primeiros homens aparecidos na Terra pouco diferissem do macaco pela forma exterior e não muito também pela inteligência.
Essas informações nos levam a pensar sobre a sabedoria e a justiça das Leis que regem todos os seres, oferecendo a cada espécie, por menor que seja, as condições necessárias para o progresso.
Cleto Brutes
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 89. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. questões 597, 606, 607b e 613.
2, 6 ______. A Gênese. 37. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1996. capítulos. III, item 21 e XI, itens 15 e 16.
3 FRANCO, Divaldo. Conflitos Existenciais. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador, BA: LEAL, 2005. p. 115.
4 SCHUTEL, Cairbar. Gênese da Alma. 6. ed. Matão, SP: O Clarim, 1982. p. 13 e 14.
5 XAVIER, Francisco. Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2004. p. 92.