A compreensão é um estado superior da alma.
Aquele que compreende está sempre disposto a ceder e esperar.
Quando Jesus nos recomenda uma caminhada mais longa com quem nos obriga a acompanhá-lo durante certo trecho de caminho, o Mestre faz um apelo à nossa capacidade de compreensão.
Se fôssemos ofertar às pessoas somente o que elas próprias nos ofertassem, não sairíamos do lugar em matéria de entendimento.
Alguém deve tomar a iniciativa de renunciar em benefício da paz.
Dentro do lar, diariamente somos chamados a longas caminhadas na estrada do perdão.
No relacionamento com o próximo, carecemos de andar muitas léguas por dia, no que diz respeito à solidariedade fraternal.
Nas tarefas profissionais que abraçamos, torna-se imprescindível a perseverança diuturna, se logramos alcançar o êxito almejado.
No combate às imperfeições que trazemos no íntimo do ser, não podemos esmorecer logo nos primeiros passos da marcha redentora.
Na seara do bem, a vida nos pede para que percorramos exaustivas trilhas, aprendendo a contornar obstáculos.
Quem mais caminha mais oportunidades encontra.
Muita gente desiste de seguir adiante quando estava prestes a concluir a jornada.
Há quem desista da compreensão no exato momento de colher os frutos de tal semeadura.
Aconselhando-nos uma caminhada além das expectativas de quem a ela nos obrigasse, Jesus, uma vez mais, revela-se profundo conhecedor da alma humana…
É que doando aos outros o que os outros não esperam de nós, estimulamo-os à reflexão sobre nosso gesto de maior desprendimento.
Daremos a eles uma prova de nossa capacidade de ir além das exigências, porque a segunda milha é aquele trecho da jornada em que as mudanças que esperamos operar nos outros podem acontecer.
A primeira milha é a do dever, da obrigação, já que todos os que vivemos em sociedade somos exortados ao mínimo de esforço pela convivência pacífica.
A segunda milha é a que Jesus aguarda que percorramos ao lado dos companheiros intolerantes e arbitrários, exigentes e orgulhosos, pois é justamente nela que os nossos exemplos começam a falar mais alto, tocando-lhes a alma.
Portanto, não reclamemos de cansaço.
Como Jesus, que ainda agora prossegue conosco na expectativa de que mudemos, caminhemos com os amigos de nossa estrada quantas milhas forem necessárias, se efetivamente desejamos vê-los transformados.
Pelo modo de carregar a cruz, antes mesmo de alcançar o topo do calvário, Jesus já havia modificado dezenas de pessoas que lhe acompanhavam o martírio silencioso e, ainda hoje, aquela segunda milha percorrida pelo Cristo permanece como um apelo eloqüente à consciência de toda a Humanidade.
OLIVEIRA, Alkíndar de. O Espírita do Século XXI. 1. ed. Santo André, SP: EBM, 2001.