O prazer sempre foi e sempre será a força motriz das ações humanas. Todas as conquistas e descobertas, boas ou más, tiveram como objetivo a satisfação prazerosa do indivíduo.
Epicuro (341-279 a.C.), filósofo ainda mal interpretado e compreendido, concebe que a felicidade é decorrência do prazer resultante da saúde física e da serenidade espiritual. Este estado de alma é atingido, pelo conhecimento e controle dos desejos, dentre outras posturas diante da vida. Sua concepção de prazer, simultaneamente físico, intelectual, estético e espiritual, em muitos pontos, coincide com o que propõe o Espiritismo.
Existem algumas formas de prazer: a de ordem mais fisiológica, sensual, derivada do instinto de sobrevivência, necessária ao ser para que a espécie humana tivesse a sua conservação e a perpetuação assegurada, constituindo parte das leis naturais sendo, portanto, de origem divina. Aqui encontramos o prazer da sexualidade e da alimentação que, quando usado em equilíbrio, é saudável e cumpre as funções a que foi destinado e, quando em desequilíbrio, provoca transtorno e doenças.
Existe, também, o chamado prazer psicológico, de autoafirmação, estimulador para que o indivíduo busque a conquista do saber, da intelectualidade, da capacidade de se tornar útil e capaz de cumprir o seu papel no mundo. Na forma exagerada, ele leva o indivíduo à prepotência e ao egoísmo.
Há ainda o prazer espiritual, o prazer da alma, da sensação de viver bem, de se tornar melhor, mais equilibrado, com a paz de consciência de fazer o bem e com um importante papel de colaborador na criação da obra divina.
Com certeza, no atual desenvolvimento moral da humanidade, ela se encontra mais ligada aos prazeres fisiológicos e psicológicos, desconhecendo ainda os prazeres da alma. Isso explica a busca insana que o indivíduo e a sociedade desenvolvem procurando satisfazer essas formas de prazer, provocando intenso desgaste orgânico e psicológico, afetando seu próprio desenvolvimento moral para atender aos excessos. O indivíduo está ainda extremamente voltado para o gozo imediato, materialista, demasiadamente egoístico, de dominação e poder, focando a vida somente no presente, sem medir consequências futuras, não se permitindo o aprendizado fundamental das conquistas espirituais e os prazeres duradouros que elas proporcionam.
Na outra extremidade se encontram os puritanos que, por desequilíbrio, não se permitem nenhuma forma de prazer, entendendo que a mortificação do corpo é o caminho para a elevação espiritual.
Nas eras obscuras do pensamento humano, os dois extremos fizeram parte do desenvolvimento da humanidade: a total busca do prazer sem preocupação ética ou moral, baseando a vida somente no instinto, mais próximo aos irracionais, onde houve o abuso do poder, da sexolatria, da gutonia, da sensualidade, da licenciosidade, épocas de tristes memórias; e o momento oposto, onde o prazer era considerado pecado e ofensivo às leis divinas. Toda forma de prazer era errada e se estimulava o completo abandono dos prazeres para se atingir o “céu”. Isso teve início em épocas remotas quando a religião imperava ditatorialmente na consciência do ser, mas se mantém até hoje, em menor quantidade, podendo levar o indivíduo à indiferença e à depressão.
Quando Allan Kardec aborda na quarta parte de O Livro dos Espíritos sobre as penalidades e os prazeres terrenos e futuros, condiciona a felicidade do ser, tanto a presente como a do porvir, a sua conduta, suas escolhas e às atitudes dedicadas ao bem, ou seja, aos prazeres que somente a alma pode sentir. Muitas das penalidades e sofrimentos que padece são resultado do abuso do livre-arbítrio na saciação dos prazeres fisiológicos. O homem é o causador dos seus próprios sofrimentos materiais e morais.
Ao entender que a medida da felicidade é, para a vida material, a posse do necessário, ou seja, o equilíbrio entre a escassez e o supérfluo, e isso lhe bastará, saberá moderar inclusive seus apetites na satisfação dos prazeres orgânicos; e, para a vida moral, a conquista da consciência tranquila, com uma vivência ética e sensata, e a fé no futuro com confiança em si mesmo e em Deus.
O prazer e a felicidade dos bons Espíritos consistem em conhecer todas as coisas, não sentir ódio, ciúme, inveja, ambição e nenhuma das paixões fisiológicas que a busca exacerbada infelicita o homem. A felicidade deles nada tem de carnal, somente são espirituais, prazeres que ainda grande parte da humanidade não experimentou, por desconhecer, mas que são profundamente mais intensos daquelas que se experimentam na Terra.
Quando aprender a controlar o excesso das paixões e dos prazeres, não deixando que eles governem a sua vida, o homem estará dando um grande passo para a sua renovação moral, compreendendo o verdadeiro sentido da vida, podendo realizar coisas grandiosas em seu benefício e dos outros, já tendo uma antevisão da felicidade plena que os bons Espíritos vivenciam, descobrindo que fazer o bem é algo extremamente prazeroso.
Luis Roberto Scholl