Para compreender melhor o que acontece com o espírito durante o sono do corpo, precisamos considerar alguns princípios que regem a vida do espírito conforme nos ensina a Doutrina Consoladora, tais como: a imortalidade da alma, a pluralidade das existências e dos mundos habitados, a permanente e completa interação entre os seres que habitam e vivem em todas as dimensões. Também é preciso ver o ser humano como um ser triplo, formado de um corpo físico, uma alma (ou espírito encarnado) e perispírito (ou corpo espiritual) que serve de elo de ligação entre a alma e o corpo.
O sono tem por fim dar repouso ao corpo; o espírito, porém, não precisa repousar. Nesse estado, o espírito vive a outra fase da sua existência que é aquela em que, em gozo pleno de suas faculdades, inter-relaciona-se mais diretamente com o mundo invisível. Poderíamos comparar o espírito, durante o sono, a um prisioneiro que tem por alguns momentos restituída sua liberdade. Todavia, de posse dessa liberdade parcial, a atividade que ele irá desenvolver depende muito do seu grau de evolução. Conforme suas aspirações e suas afinidades, será essa vivência do espírito.
Assim, o espírito nem sempre aproveita essa hora de liberdade para seu adiantamento. Os mais imperfeitos, em vez de procurar a companhia de espíritos bons, buscam a de seus iguais. Vão, enquanto dormem, ou a mundos inferiores, onde os chamam velhas afeições, ou em busca de emoções talvez até menos dignas das que alimentam quando em vigília e, por afinidade, entram em contato com outros espíritos que vivem nos vícios, no erro, na maledicência. Já os mais evoluídos, aqueles que buscam o bem, enquanto o corpo adormece, vão para junto dos seres que lhes são superiores e com estes conversam e se instruem. Aproveitam essa liberdade provisória para estudar, para receber orientações e, quando despertos, sentirem-se mais fortalecidos para continuar a sua missão terrena.
Durante o sono podemos nos encontrar com parentes e amigos ou outros espíritos com quem temos laços de simpatia ou antipatia, os quais nos antecederam no retorno à dimensão espiritual. Isso é possível porque, durante o sono, o espírito mantém-se ligado ao corpo físico por prolongamentos do perispírito, chamados de cordões fluídicos, que permitem a movimentação do espírito, sem prejudicar as funções orgânicas necessárias para manter o organismo em repouso. Como o espírito não se desliga completamente do corpo, onde quer que ele se encontre, diante de qualquer emergência ou necessidade ele pode retornar imediatamente ao corpo.
Se quisermos que nosso espírito aproveite bem o período do descanso físico, fortalecendo-se para melhor cumprir a missão terrena, é necessário que durante o dia alimentemos bons pensamentos e sentimentos. Que façamos boas ações; que nessa encarnação priorizemos o progresso do espírito, mas sem descuidarmos do corpo físico, essa casa que momentaneamente hospeda nosso espírito e que nos oportuniza vencer imperfeições e adquirir as virtudes morais que ainda não possuímos.
Antes de adormecer, em prece, elevemos o nosso pensamento a Deus rogando a companhia dos bons espíritos e a oportunidade de recebermos bons conselhos para nos ajudar a buscar, sempre, em primeiro lugar o reino de Deus.
Fonte consultada: Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos.
Questões 400 a 412. Ed. para Internet: FEB