Visitávamos o berçário de um pequeno hospital; a criança recém nascida chegava ao seu leito para o repouso, seu e da mamãe. Pensamentos vieram: como seria abençoado aquele pequenino ser frágil, mas ao mesmo tempo tão depositário de esperança. Seus pais, pessoas bondosas e bem posicionadas, social e financeiramente, esperavam ansiosos pela vinda do primeiro filho. Irá morar em uma grande e confortável casa. Terá um quarto ricamente decorado, os melhores médicos, as melhores babás, as melhores escolas para, no futuro, ser doutor…
Enquanto esses pensamentos tomavam-me de assalto, foi colocada ao lado desta criança uma outra, fisicamente nem tão formosa, nem tão desenvolvida, mas que, como toda criança, exalava um ar de pureza e esperança. Aos poucos se aproxima um senhor: roupas humildes, quase esfarrapadas, cabelo em desalinho, barba por fazer e espargindo um forte aroma alcoólico, demonstrando um certo estado de embriaguez. Apresentou-se como pai dessa criança. Num misto de tristeza e raiva, desabafou que não sabia o que seria dela, seu sétimo filho. Os outros mais velhos já perambulavam pelas ruas, buscando o próprio sustento na mendicância ou em pequenos furtos. Apesar de sua rusticidade, uma pequena lágrima rolou pelo seu rosto, temendo pela sorte desse pequeno ser que, chegando ao mundo, vislumbra um horizonte de fome, miséria e violência pela frente…
Naquele momento nada pude dizer para consolá-lo. Nem para seu filho, que observávamos pela vidraça, em profundo sono de ternura.
“- Deus, que justiça é essa, que faz com que dois seres, filhos Teus, que vieram ao mundo praticamente juntos, tenham destinos tão diferentes?”
Não sei se aquele pai, marcado pelas lutas do tempo e das adversidades teve os mesmos questionamentos que eu. Deus existe, disso não podemos duvidar pela magnitude de Suas obras, e Ele não comete injustiças, privilegiando uns em detrimento de outros.
Ao constatar que aqueles dois pequeninos seres, que ali se encontravam em situações tão opostas, não estão chegando pela primeira vez neste orbe, entendi um dos princípios da Doutrina Espírita: a REENCARNAÇÃO. Passamos, inúmeras vezes, por experiências na matéria procurando adquirir conhecimento e elevação moral. Em muitas circunstâncias erramos nas escolhas, em outras acertamos. Entre acertos e erros construímos nosso destino. Passado algum período encarnados, voltamos à Pátria Espiritual.
Após avaliar nossas conquistas e desacertos, retornamos ao nosso planeta em um novo corpo, mas muito próximo de pessoas e situações que nos servirão para reparar erros do passado e aprender visando o futuro. Cada um renasce no meio mais apropriado ao seu desenvolvimento intelectual, espiritual e moral. Como disse Jesus: “A cada um segundo as suas obras”, ou seja, LEI DE CAUSA E EFEITO.
Assim, pelo imenso amor de Deus, retornamos para nos corrigir, pois Ele não deixa nenhum de seus filhos punidos pela eternidade. Sempre haverá chance de reparar o mal praticado.
Quanto àquelas crianças, ninguém pode prever o futuro. Talvez o filho de meus amigos, apesar de todas as boas oportunidades que tiver, faça más escolhas, enverede pelo caminho do mal ou da ociosidade e tenha uma reencarnação sem proveito. O outro, em situação aparentemente tão difícil, pode aproveitar as chances e crescer intelectual e moralmente, seguindo as expectativas depositadas pela espiritualidade. Dependendo da maneira como cada um encarar suas provas e expiações, utilizar o livre arbítrio, em uma posterior reencarnação, as situações de nascimento podem ser opostas ou diferentes…
Luis Roberto Scholl