Porque, àquele que já tem, mais se lhe dará e ele ficará na abundância; àquele, entretanto, que não tem, mesmo o que tem se lhe tirará. (Jesus – Mt 13, 12)
Analisando-se essa afirmativa, sem a profundidade necessária, poderíamos questionar: onde estaria a justiça divina dando mais aquele que já tem e tirando daquele que não tem?
O estudo da mensagem de Jesus exige uma interpretação mais cuidadosa, caso contrário, seus ensinos poderão contrariar a bondade e a misericórdia divinas.
A vida retorna de acordo com o que cada um oferece. Pela lei de causa e efeito, recebemos, a todo o instante, respostas em consonância com as construções do presente e do passado. Não como privilégio, mas por merecimento do que já tem.
Para ter paz é necessário que o ser se disponha a construí-la. Terá paz quem consegue pacificar o seu mundo íntimo, vencer os impulsos inferiores, disciplinar os pensamentos, harmonizar os sentimentos. Em outras palavras, dar-se-á a paz a todo aquele que já tem a consciência tranquila e, apesar dos conflitos e dramas externos, o seu mundo íntimo não se altera.
A saúde física e espiritual é o ganho de quem exercita o autocontrole para limitar os desejos inferiores, vive com simplicidade e cuida do corpo e da alma. A quem culpar, senão a si mesmo, pelos excessos cometidos?
Para quem menospreza a oportunidade de trabalho, e por isto perde o emprego, não poderá acusar a má sorte, o seu empregador ou a providência divina.
Aquele que se qualifica e se dispõe a praticar o bem, ganhará, cada vez mais oportunidades de aprender e de fazer o bem. Por outro lado, quem desperdiça o tempo, os recursos, não usa seus talentos para sua evolução e em benefício comum, ser-lhe-á tirado as oportunidades de fazer o bem. Poderá perder os recursos mal utilizados, o tempo e até mesmo a encarnação.
“Tira-se ao que não tem, ou tem pouco.” Tomai isso como uma antítese figurada. Deus não retira das suas criaturas o bem que se haja dignado de fazer-lhes. Homens cegos e surdos! abri as vossas inteligências e os vossos corações; vede pelo vosso espírito; ouvi pela vossa alma e não interpreteis de modo tão grosseiramente injusto as palavras daquele que fez resplandecer aos vossos olhos a justiça do Senhor. Não é Deus quem retira daquele que pouco recebera: é o próprio Espírito que, por pródigo e descuidado, não sabe conservar o que tem e aumentar, fecundando-o, o óbolo que lhe caiu no coração.”1
Deus, que a tudo provê e a tudo sustenta, fonte de bondade, misericórdia e perdão, não poderá ser responsabilizado pelas misérias humanas, frutos da imprevidência, da insensatez, do destempero, do orgulho e do egoísmo das criaturas ainda imperfeitas.
Por isso Jesus recomenda que perseveremos no bem. Quanto mais disciplina, esforços e renúncias em prol da obra da nossa regeneração, maiores serão os ganhos de paz, saúde e prosperidade, aumentando as oportunidades e os recursos a serem empregados nessa missão.
Cleto Brutes
1KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 112. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996. cap. XVIII. item 15.