“Vinde a mim vós que estais aflitos e carregados e eu vos aliviarei”. (Mt XI, 28-30)
É comum no enfrentamento das próprias doenças, o desespero, a revolta e o descontrole emocional, enquanto as atitudes recomendáveis são calma e paciência, procurando atenuar a dor ou afastar a enfermidade com tratamento adequado.
Francisco Cândido Xavier conta-nos, em livro de Elias Barbosa1, que em 1931 encontrava-se ele com o olho esquerdo sob o domínio de doença que carregou consigo até o fim da vida. Após os contatos iniciais com Emmanuel, seu mentor espiritual, rogou orientação para o sofrimento que enfrentava, querendo muito a cura. Emmanuel, bondosamente, orientou Chico que persistisse no tratamento médico a que já estava sendo submetido, esclarecendo que a medicina no mundo está em nome da Divina Providência. Chico Xavier ainda indagou ao mentor se devido ao imenso trabalho mediúnico que teria pela frente, ele não poderia esperar pela intervenção do plano espiritual em beneficio da sua cura, ao que Emmanuel respondeu:
– “Por que você receberia privilégios por ser médium? A intervenção do plano espiritual está agindo a seu favor, sustentando as suas forças, através do magnetismo curativo, secundando a ação dos oculistas que nos amparam. A condição de médium não exonera você da necessidade de lutar e sofrer em seu próprio benefício, como acontece às outras criaturas que estão no plano físico”.
O amigo espiritual pediu ao Chico para ler n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, o capítulo VI “O Cristo Consolador”: “Vinde a mim vós que estais aflitos e carregados e eu vos aliviarei”. Quando chegou na palavra aliviarei, Emmanuel esclareceu que Jesus não promete a cura. Isso nos retiraria das bênçãos e das obrigações que cabe a cada um de nós cumprir, perante as leis de Deus. Promete, sim, aliviar-nos, auxiliar-nos quando buscarmos ajuda e tivermos o merecimento.
O imediatismo e o entendimento da doença como castigo, e não como resultado de ações infelizes no passado ou provações benéficas, são fatores que levam ao desequilíbrio do indivíduo.
Como diz Chico ao final de seu relato: “Hoje, depois de 36 anos (1967) sobre este diálogo, agradeço a Deus a bendita doença que carrego nos olhos, sempre tratado por médicos amigos e por amigos espirituais, pois ela tem sido em todo esse tempo um agente providencial, induzindo-me à reflexão e ensinando-me a respeitar o sofrimento dos outros”.
Quando passarmos pela provação da doença, procuremos agir com tranqüilidade e confiança. Busquemos o alívio e a cura na medicina terrena; auxílio na Casa Espírita através do passe e da água magnetizada; esclarecimento no estudo e nas palestras; sobretudo, aproveitemos as lições que a doença nos traz, fazendo do sofrimento um trampolim para a ascensão espiritual, trabalhando o amor, a paciência, a compreensão e a resignação.
Luis Roberto Scholl
1BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. Araras, SP: IDE, 1967.